sexta-feira, 30 de abril de 2010

Domingo, não vou ao Maracanã...

e por um bom tempo! Não, não é uma dessas promessas furadas de torcedor, após mais um insucesso do seu time de coração. Quem dera se fosse! Bastariam duas vitórias e um futebol um pouquinho melhor, que lá estaria eu, novamente, com a mesma camisa encardida (porém, vitoriosa, antes que digam o contrário!), feito mulher de malandro, acreditando na regeneração improvável do agente das minhas recorrentes decepções. Entretanto, daqui há alguns poucos meses, nem que quisesse quebrar a tal promessa, poderia. O palco, onde se passa boa parte dessa minha intensa e turbulenta relação com o meu time, fechará. Ainda não sei por quanto tempo (nem mesmo a corja do terno e da gravata, liderada por Engomado Paes e Sergio Pedro Álvares Cabral Filho, sabe ao certo). E pior: nem sei como ele vai ficar. Ou melhor, sei, mas não quero acreditar. O tão afamado “padrão FIFA” será enfiado goela abaixo, norma por norma, sem ao menos uma análise anterior do histórico do paciente. O processo civilizador, e sua tendência uniformizadora e universalizante, iniciará sua caminhada rumo a conquista de territórios. Um desses, é o Maracanã. Ponto estratégico, um dos mais preciosos bens do futebol brasileiro, presa fácil para os olhos gananciosos do colonizador. Tudo bem, essa última parte foi carregada de dramaticidade, concordo. Mas, você, leitor, já foi ao Maracanã ao menos uma vez na vida e ficou em pé, na arquibancada verde, bem ao lado da torcida, de sua bateria, de suas bandeiras, cantando e participando de toda aquela festa por pouco mais de noventa minutos? Se já se deu esse presente, compreende o tom “fim do mundo” das minhas palavras. Não sou contra a modernização do estádio. O maraca possui uma série de problemas, todos sabem. Duas entradas e saídas apenas, poucas catracas, uma quantidade pequena de bilheterias que funcionam e um anel exterior estreito para a o numero de pessoas que circulam, principalmente ao final do jogo, são alguns deles. Porém, fica a pergunta: será que o projeto do “novo Maracanã” resolverá essas deficiências? torço para que sim. Certeza, não tenho mesmo. Até porque a preocupação principal parece estar em disseminar uma “cultura-padrão” que estabeleça as regras de comportamento no estádio (vide a questão das vuvuzelas, que quase foram proibidas na Copa de 2010). Além do mais, você consegue imaginar, no espaço reservado ás torcidas organizadas, todos procurando o setor tal, fileira tal e numero sei lá o quê para sentar? E porque tem que se imaginar isso? Será mesmo que a partir daí a violência cessará dentro e fora do estádio? Sei apenas de uma coisa: não quero me comportar como público de teatro ou cinema em um estádio de futebol. Imagina: Adriano arranca do meio de campo, está mano a mano com o zagueiro, você levanta para ver o lance e, sem mais nem menos, ouve um ensurdecedor “seeeeentaaaaaaa!”. Ou, aquele tal de Álvaro erra, pela milésima vez, na saída de bola e você resolve xingar a plenos pulmões “seu ..., vai ...!” e, surpreendentemente, ouve um “Xiiiiiiiiiiiiiiiiiii!” generalizado, e frases como “vai pra casa, boca-suja!”, “que coisa feia!”....situações como essas parecem inimagináveis, não é? ... o quê? Exagerei....de novo? beleza, parei. Fim do tempo regulamentar. Mais meia dúzia de palavras e o “vidente-saudosista-exagerado” o deixará em paz. Para terminar, apenas uma nota de esclarecimento em minha defesa. Não tenho medo do “moderno” (desde que não seja uma roupagem para uma ideologia com ares hegemônicos!). Apenas gostaria de continuar aproveitando o prazer proporcionado pelo que é considerado “antigo”.

4 comentários:

  1. Exagerei no tamanho da letra, isso sim! foi mal, amiguinhos...

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  2. É simplesmente o melhor texto do blog! Orgulho de dividir esse blog contigo, Gonda.

    Possivelmente utilizarei esse texto com uma turma muito foda q eu tenho no Bahiense. Pra discutir justamente o "processo civilizador" e a cultura hegemônica.

    Parabéns. Texto foda!

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  3. Po Gondim,

    É interessante as coisas que você pontuou. Na Inglaterra, a gente tem o fim dos terraces (espécie de geral), em que os torcedores assistiam aos jogos em pé. Isso acabou. Não existe mais até, pelo menos, a terceira divisão. A Alemanha, o lugar no mundo aonde mais se respeita o torcedor de futebol,optou por outros caminhos. Em jogos internacionais, instauram-se cadeiras retrateis e os torcedores seguem o 'padrão FIFA'. Nos jogos "locais", porém, o que acontece? Retiram-se as cadeiras e mantém-se a cultura dos torcedores preservadas. (eles podem assistir em pé a vontade!) Acho que a gente deveria se voltar um pouco mais para o estudo do caso alemão, muito mais no modelo alemão do que no modelo inglês. E o ingresso na Alemanha é um dos mais baratos da Europa, mais barato que o médio do campeonato brasileiro!!! E, respeitando o torcedor, fazendo futebol sustentável, o Bayern está na final.

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  4. Oi, Vi! Poi zé. A rapeize que vai ao estádio quer respeito, não "domesticação", né, bicho?!

    Só não sei se o Maracanã será "presa fácil". Espero que não! Deve haver alguma resistência. Sei lá, bicho!

    Beijocas!

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