segunda-feira, 19 de abril de 2010

A flor do desejo e do maracujá!

Sábado, 45 do segundo tempo, Old Trafford. "Trouble for United". O empate sem gols contra o maior rival àquela altura afastava todas as possibilidade de título. O Chelsea jogaria mais tarde, contra o Spurs. Um clássico londrino, é verdade, mas com muito menos rivalidade do que City X United. Os Spurs pareciam um que não obteriam uma vitória contra os Blues, que vinham embalados, de vento em popa na primeira colocação. Por sua vez, os torcedores do City estavam mais que satisfeitos com o resultado. Além de afastar todas as possibilidades de título do United, mantinham-se fortes na briga pela quarta vaga na Uefa Champions League, com a vantagem do confronto de direto na penúltima rodada, no City of Manchester. Parecia uma tarde de futebol de sábado perfeita para os que, no começo do jogo, ironizavam a faixa rebelde dos torcedores do United ('Love United; Hate Glazers'), estapando por todo o estágio a deliciosa faixa: 'Love Glazers, Hate United'. Mas não seria. Paul Scholes não iria deixar que isso acontece dessa forma. Após receber um cruzamento de Valencia, um gol, de cabeça. Perfeito. A explosão em todo o estágio. Neville corre para o abraço e...um beijo em Paul Scholes! Scholes que durante toda a temporada marcara apenas dois gols, e fez partidas bem abaixo da crítica (contra o Bayern, em Old Trafford), não deixaria que o seu time, o SEU time ficasse nesta situação. Afinal, Scholes está há mais de dez anos no United, fez gols magníficos e decisivos (como não lembrar daquele espetacular há dois anos contra o Barcelona!), uma verdadeira lenda do United. Assim seus companheiros de time, Gary Neville e Ryan Giggs. E com eles convive intesamente há tantos e tanos anos, levando glórias para o "Teatro dos Sonhos..." Não teria grandes dificuldades em imaginar que são muito amigos e que confiam intensamente um no outro. Cresceram todos, afinal, nas categorias de base do United e são amigos de infância. Neville que durante toda a sua carreira não foi nada além de um lateral-direito razoável, com funções muito mais do que defensivas do que ofensivas, subindo raras vezes ao ataque, sempre foi um verdadeiro líder em campo e hoje é um dos maiores ídolos de todos os tempos do United, ao lado de verdadeiros gênios como Charlton, Best, Law, Cantona... Ele dedicou toda a sua vida ao United, e, apesar da sempre limitada técnica, se esforçou como poucos para estar naquele que é o maior clube de futebol do mundo. Acima de tudo, AMA o Manchester United. E, se é verdade que o futebol é um sistema totêmico, que opõe clãs e tribos em pares antitéticos, amar o United significa, sobretudo, ODIAR o City. E Neville depois de convivência tão intensa de anos com Giggs e Scholes, passou a amá-los, por perceberem, que, assim como ele são parte do United (do "Nós"), contra eles (os "outros"), do City. Há, portanto, uma declaração de amor mais bonita e profunda do que um beijo na boca mútuo? Não, amigos, não creio. A sociedade contemporânea interdita o toque entre individuos do mesmo sexo, especialmente do masculino. Basta pensar que raras vezes abraçamos nossos amigos homens, em contraposição às mulheres, que se acariciam, se tocam, se abraçam quase sempre. O futebol é uma exceção à regra, quase que como, especialmente, neste sentido, uma válvula de escape às tentações do instinto homossexual, ambiente em que o abraço, ao menos, é liberado: "Free Hugs..." O beijo de Scholes em Neville, ou vice-versa, nada é além de uma declaração de amor ao próprio clube, nada além disso, e do que o limite máximo proporcionado pela experiência futebolística. Paradoxalmente, o homossexualismo é muito condenado no meio dos jogadores. Depois do Exército, o futebol é o lugar aonde é mais raro encontrar algum sujeito homossexual. Não nos lembramos de Jonh Barnes, o negro e homossexual, que, depois de atingir a glória pelo Forest e pela Seleção Inglesa, se suicidou tragicamente? Ou ainda o zagueiro Sol Campbell que é acusado- talvez, injustamente- de homossexualismo por ter declarado que não gosta de mulheres, porque "tem medo de que elas só estejam interessadas no seu dinheiro"? O beijo de Scholes foi apenas o limite extremo deste contato físico reprimido em partes da sociedade, manifesto no futebol. Nenhuma mostra de homossexualismo por parte de cada um, apenas, no limite, uma declaração de amor ao futebol, ao United, e à propria geração a que pertencem que conquistou tudo o que pode no futebol. E, claro, de ódio ao City. Neste contexto, meus amigos, eu também quero beijar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário