domingo, 4 de julho de 2010

A queda de Dunga e das suas convicções




Muito se falou durante os quatro anos de preparação entre o fracasso da Copa de 2006 e o torneio de 2010. Deveria existir algo novo, uma mudança de postura em relação ao que ocorreu na Alemanha. O mantra repetido, em quase todas as entrevistas passava sempre pelas palavras “comprometimento” e “dedicação”.

Dunga convocou mais de 80 jogadores nesse período de tempo, passando por experiências esdrúxulas como Afonso Alves e, por outro lado, mantendo jogadores do fracasso de 2006, como Kaká e Robinho. Este último, aliás, brilhou muito nas conquistas da Copa América e nas Eliminatórias da Copa, quando o Brasil conquistou a classificação com antecedência e tranqüilidade, fato que não tinha acontecido nas últimas tentativas com Parreira e, sobretudo, Felipão.

Para as conquistas desses torneios, Dunga apostou num grupo fechado, unido, que não tinha espaços para mais de uma ou duas estrelas, bem diferente da tradição brasileira. Preferiu cordeirinhos à bad boys, disciplina tática – questionável – ao invés de talento. E, desse modo, foi extremamente bem sucedido. Se não foi unanimidade – ninguém conseguiu – junto ao povo, mostrou bons resultados. Inquestionáveis, até. Muito por conta disso, fui um dos seus grandes defensores.

Na estada na África do Sul, treinos fechados para a imprensa, isolamento, transformando a seleção quase num quartel, muito diferente da bagunça em Wegis, que foi apontada por muitos como responsável por aquele estrondoso fracasso, culminado com a derrota pra França. Nas coletivas, usou e abusou da agressividade, que teve seu ápice na discussão ridícula que teve com Alex Escobar, da Rede Globo e Sportv. Isso tudo seria sustentável e, possivelmente esquecido em caso de título. O treinador seria glorificado e pouco se falaria sobre tudo isso. Mas Dunga correu um risco. Acabou se isolando, criando problemas onde não havia, e se houvesse um fracasso, seria apontado como culpado de forma irrefutável, praticamente sem defensores, principalmente dentre a imprensa e a poderosa Rede Globo.

Talvez isso tenha sido lembrado pelo gaúcho, quando gritava descontrolado à beira de campo, durante a derrota para a Holanda.
Depois de uma primeira fase razoável, num grupo difícil e de alternar boas exibições -Costa do Marfim – e péssimas – Portugal e, sobremaneira, Coréia do Norte – o Brasil passou em primeiro no seu grupo. Calcado no sucesso de uma defesa campeã da Europa e que tinha sido salva em 2006, apesar do naufrágio do resto do time, baseando seu estilo de jogo no contra-ataque, e em lampejos individuais de Kaká, enfrentaria o Chile, velho freguês, nas oitavas de final.

Uma boa exibição, talvez a melhor até o momento, contra um adversário que não foi bem e cometeu o erro de partir pra cima, o Brasil sobrou, e enfrentaria a Holanda, grande seleção que não havia feito nenhuma partida espetacular até então. Seleção esta que perdeu com gerações ainda melhores que esta, de Sneijder e Robben, em 1994 e 1998. Só lembrarmos dos irmãos De Boer, Bergkamp, Seedorf, Overmars, Cocu, Kluivert, entre outros.

Um primeiro tempo excelente, com um gol de Robinho depois de passe sensacional do contestado e alucinado Felipe Melo e outras inúmeras oportunidades perdidas. A classificação estava bem encaminhada, e apesar disso, o que se via em campo era um time nervoso, violento, de forma injustificável. Reflexo de seu treinador? Provavelmente.

Nos 45 minutos finais, o castelo ruiu. A defesa, logo ela, tão elogiada, falhou duas vezes, incluindo ai um frango do melhor goleiro do Mundo, Julio Cesar. Depois do primeiro gol, a seleção se perdeu, sabe-se lá porque se abalou de forma tão grande que o segundo foi apenas uma conseqüência. Pra piorar, Felipe Melo pisa em Robben e é expulso, o que segundo muitos, até demorou pra acontecer. Pra tentar mudar alguma coisa, Dunga tira Luis Fabiano, e coloca Nilmar. E só. Não havia mais ninguém capaz de mudar um jogo.

E aí, que Ronaldinho Gaucho, Ganso, Neymar, Adriano e outros devem ter sorrido. Porque foram preteridos pelo “comprometimento”. Josués, Klebersons e Grafites foram levados, e sequer utilizados de forma regular, enquanto outros que podiam mudar um panorama de jogo, ficaram por aqui, por vários fatores. As convicções de Dunga, que tanto o ajudaram, sentiram esse peso e por falta de qualidade mesmo, não puderam ajudar. O Brasil caiu.

A exemplo de 2006, onde todos os medalhões foram levados, nas quartas de final. O treinador, questionado pela mídia e pela torcida, já sabia que não continuaria para 2014, mas pode se tornar persona non grata na sua terra. Dificilmente será chamado pra programas esportivos.

Que a lição seja aprendida para 2014. Uma geração talentosíssima já se mostra: Ganso, Coutinho, Neymar, Breno, Lucas, Denilson, Thiago Silva...E que, daqui a 4 anos, na nossa casa, possamos comemorar o tão esperado Hexa.

domingo, 27 de junho de 2010

Dos dilemas do futebol globalizado.

“O futebol é um jogo simples. 22 homens caçam a bola durante noventa minutos. E no final, devo dizer, os alemães sempre vencem”, Gary Lineker, artilheiro da Copa de 1986.


Verdade que desde 1954 a Alemanha no futebol mundial tem construído uma história de sucesso. Verdade que, a despeito de toda a soberba, a Inglaterra fez muito pouco desde 1966. À exceção do time comando por Lineker e Gazza em 1990, a Inglaterra tem penado para obter bons resultados, quiçá títulos. A questão basilar é a seguinte: como uma nação apaixonada por futebol (talvez a mais apaixonada no mundo) não conseguiu em cinquenta anos de futebol espetáculo montar times minimamente competitivos em relação às demais potências européias, tendo colecionado fracassos em Copas do Mundo e em Eurocopas, ao passo que seu 'rival' antitético, a Alemanha tem logrado êxito sucessivo em todas as competições. É preciso, assim, construir uma análise que escape à reprodução de estereótipos do tipo que caracteriza o futebol alemão comno essencialmente 'tático', o futebol da força, mas que seja fundamentada na análise do desenvolvimento histórico do futebol alemão, da gênese de suas equipes e no modo organizacional do futebol no país germânico. À guisa de análise, vale a pena refletir se existe (ou não) relação entre o sucesso futebolístico internacional (em termos mundiais) e a estrutura organizacional do campeonato nacional.
Embora a Premier League seja considerada a 'mais rica do mundo' e tenha obtido sucesso elevado em competições internacionais, tendo o Manchester United e o Chelsea realizado uma final 'inglesa' há dois anos atrás na Champions League, os seus problemas são públicos e notórios, notadamente, vem à baila, o 'elevado preço dos ingressos', que excluiu grande parcela dos torcedores dos estátidos. O elevado preço dos ingresso fez com que a média de idade dos torcedores se elevasse em nível nunca antes vistos, o torcedor-padrão da Premier hoje tem em média 45 anos. De toda a forma, embora o lado negro da Premier League permaneça oculto nos mass media que quase sempre preferem enfatizar o 'sucesso' no combate ao 'hooliganismo' por Margaret Thatcher valorizando o conceito de 'platéia' do torcedor como espectador ao invés do torcedor como torcedor. Nesse sentido, o elogio à Premier, o moderno, é, necessariamente, a crítica ao futebol-brasileiro, que representa em pólo oposto, o atraso, 'o semi-feudal'. Neste tipo de análise, por um lado, a Premier obteve sucesso dado ao seu elevado nível de organização fundamentalmente burocrático e capitalista, por outro, o campeonato brasileiro entrou em crise dado que às relações pessoais estruturam e ordenam o pensamento dos 'dirigentes de futebol' (os cartolas) fazem com que o campeonato brasileiro não consiga 'ir para frente', não seja capaz de 'se organizar'.

De toda a forma, em período de Copa do Mundo, a explicação necessária e lógica que se tem ao vermos seleções historicamente fortes como a Itália e a Inglaterra, caírem de uma forma relativamente patética (mais no caso da Itália), a explicação que vem à mente dos mass media é o imediatismo: 'O futebol europeu está repleto de estrangeiros, não existe mais a identidade do clube com a nação'. O problema é que afirmada a quatro ventos, como uma questão aparentemente nova específica e exclusiva do futebol de espetáculo. O problema, no entanto, é que a circulação de jogadores, embora atualmente elevada a níveis nunca dantes vistos nos últimos vinte anos, sempre configurou-se como realidade, principalmente, no caso inglês. A Liga Inglesa, em certo sentido, configurou-se como uma espécie de Liga da Grã-Bretanha, desde sua gênese, dado que os escoceses, irlandeses e norte-irlandeses sempre foram constante presença na Primeira Divisão da Football League.

O famoso time do Manchester United, campeão europeu em 68, tinha um trio de ouro que contava com dois britânicos, Dennis Law, escocês, e George Best, norte-irlandês, além de, é claro, Bobby Charlton, inglês. O famoso time do Liverpool dos anos 70, tinha como principal referência Kenny Dalglish, outro escocês. Além do que no distante ano de 1983, o Liverpool foi o primeiro time a jogar uma final de FA Cup sem um inglês no esquadrão principal, tendo vencido o Everton, de Ardilles, por 3 a 1. O futebol italiano, de forma idêntica, sempre contou com alto indice de estrangeiros, mais do que isso logrou êxito na cooptação de jogadores à sua esquadra principal. Na estória dos campeonatos mundiais, a Itália sempre foi campeã com alguns jogadores naturalizados (em 1934-38, era clara a presença dos oriundi, ao passo, em 1982, Gentile nasceu na África, e, em 2006, Camorenesi, como sabemos, é argentino).

Uma questão, porém, parece-me central e penso que isso tem a ver com a própria natureza do futebol inglês, como contraponto ao futebol italiano e ao futebol alemão.


O futebol inglês tem, por natureza, uma estrutura centrifuga, que embora tenha sofrido alterações nos últimos vinte anos, notamos no quadro selecionado uma gama de times não vista em nenhuma outra seleção cujo campeonato seja um dos principais do mundo. (Espanha, Itália, Inglaterra e Alemanha)

O Kaiserslautern de Fritz Walter formou a base do time campeão; nos anos 1970, o Bayern de Beckenbauer e Müller e, mesmo em 1990, numa seleção mais dispersa compartivamente, Klismann, Brehme e Mathaus formaram uma sorte de trio de ouro na Internazionale de Milão.


Em contraponto à seleção alemã, cuja espinha dorsal atuou/a e/ou foi formada no Bayern München, o time da Inglaterra é, literalmente, uma 'colcha de retalhos'. David James joga no Porstmouth; Defoe, Spurs; Upson, no West Ham; Garreth Barry, no City; Millner no glorioso Aston Villa; Rooney no Manchester United; Glen Jonhson e Gerrard, no Liverpool; Terry, Cole e Lampard, no Chelsea. A diferença é notável no caso alemão, quando oito jogadores da Seleção alemã (quase meio time) pertencem ao Bayern München, sem falar de Lukas Podolski, que embora atue no FC Kologne, defendeu por muito tempo o time da Baviera, além, é claro, de Ballack, lesionado, e de Tony Kroos, reserva, mas emprestado pelo Bayern ao Bayer.

Historicamente, tem sido assim. Enquanto a Inglaterra 'cata jogadores de diversos clubes' para formar um selecionado, a Alemanha encontrou no seu país times fortes que serven como base para a formação de uma seleção vitoriosa e competitiva. Neste sentido, embora de forma acentuada, isso tem muito pouco a ver, creio eu, com os dilemas do futebol globalizado, 'com o excessivo número de estrangeiros em cada time', mas com a dinâmica local do campeonato local. Verdade que na Inglaterra observamos uma concentração de poder nunca antes vista (o 'big four'), mesmo assim, uma concentração dispersiva, que engloba, aí sim, os dilemas do futebol globalizado em seu bojo.

A questão do selecionado, porém, tem a ver com a dinâmica histórica dos locais, ora centrífugos, no caso da Inglaterra, ora centrípetos, no caso da Alemanha. Dinâmica do campeonato local, aliás, que tem a ver com a própria dinâmica histórica de cada nação. Mas isso, porém, é uma outra conversa... E bom, agora vai começar Argentina e México.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Manifesto em favor de uma arbitragem da inteligência

'O videotaipe é burro', dizia, com toda a razão, Nelson Rodrigues. O videotaipe é burro porque a lógica do vídeo difere, em nível fundamental, da lógica do jogo: o vídeo ao retirar a jogada seu contexto, descontextualiza o lance, tira o lance da jogada, e a jogada do jogo, do momento. À guisa de exemplo, pode-se comparar o videotaipe do gol de barriga- o video de um gol feito ao acaso- com o gol de barriga em seu contexto, no momento de execução, no final do segundo tempo? Da mesma sorte, o videotaipe torna um lance comum, e às vezes até um jogador comum, em jogador espetacular, basta lembrar da contratação de Horácio Peralta com status de craque pelo Flamengo, via DVD.

O uso do videotaipe é defendido, em todo o momento, pelos jornalistas defensores da imparcialidade, 'idiotas da objetividade', o recurso do videotaipe para análise dos lances capitais. Os lances são objetivos, verdadeiros, reais, impossíveis de se constestar. Um impedimento é um impedimento. Uma falta é uma falta. Um cartão vermelho é um cartão vermelho. A regra, no limite, é clara. O videotaipe, puro e simples, é a prova da regra, aquele que elimina a dúvida, sublima a margem. Mas será, de fato, assim?

Ora, o árbitro, não à toa, veste-se de preto, por excelência, ele é o 'neutro', o 'imparcial', o 'mediador'. Tem de ser assim, mas, por isso, deve permanecer alheio à lógica do jogo? Ao contrário, penso que o árbitro deve ser um camaleão, imiscuir por dentro do jogo, compreendê-lo, para posteriormente, regulá-lo.

Tivemos hoje um impedimento milimétrico que eliminou a Itália. O bandeira inglês 'viu' e apitou. Impedimento. Por azar, acertou. Mas poderia ter errado. Seguiu 'a letra fria da lei': dois milimetros da unha à frente da zaga, portanto, impedimento, mas acertou? Penso que não. Penso, senhores, que o bandeira foi burro, foi um 'idiota da objetividade'. Mesmo que tivesse visto Quagliarella à frente da zaga eslovena, ele não podia, não devia, não ousaria anular aquele gol. Mas anulou. E foi aplaudido. Ao contrário dos idiotas da objetividade, amigos, quero dizer que o árbitro assim como o videotaipe foi burro, porque foi pretensamente objetivo em uma questão que se deveria assumir como explicitamente subjetiva. Não estou 'sendo torcedor', muito pelo contrário. Eu queria que a Itália fosse para casa o mais rápido possível. Que bom, assim, que o bandeira anulou o gol de Quagliarella. Mas terá sido correta a atitude? Claro que não! O lance, visto em videotaipe, como objeto isolado em laboratório em que se comprava se estava impedido ou não, dá razão ao árbitro. Ele, portanto, viu o lance. Mas não compreendeu o desenrolar do jogo; viu o lance (o que é bastante discutível se ele viu ou não), mas não viu o jogo.

Uma arbitragem para ser objetiva tem de se assumir como explicitamente subjetiva, para que, ao compreender a lógica do jogo, interprete os lances de limiaridade, de dúvida, de fronteira como subjetivos, de acordos com o desenrolar do jogo. Um pênalti no Brasil não é igual um pênalti na Inglaterra, o que é percebido claramente pelos mass media, tanto que o jornalista Mauro Cézar, criou a tal 'da Liga anti-penalti à brasileira'. Ora, se existe o pênalti à brasileira, o pênalti à inglesa, na equação futebolística 'um pênalti não é igual a pênalti'. Se isso é percebido, por que não é incorporado explicitamente? Por que o futebol tem operar segundo a lógica do sim e a lógica do não? O videotaipe é burro; a objetividade é burra, a arbitragem se torna burra na medida que se quer objetiva e milimétrica. Uma arbitragem que desejar fugir da idiotia da objetividade, tem de se assumir como subjetiva, tem de incorporar 'o jogo ao apito'. Deixa, assim, de ser burra, tornando-se, imediatamente, inteligente.

Urge que tenhamos uma arbitragem inteligente no futebol mundial. E é para ontem.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Belos e Malditos – A Arte que ninguém vê

Neste primeiro semestre de 2010 temos assistido aquele que é apontado por especialistas como o melhor time que já viram entrar nos gramados brasileiros. Estamos falando, é claro, do time do Santos Futebol Clube, de Neymar, Ganso, Robinho e Cia. Os meninos da Vila Belmiro vem conquistando corações e mentes no mundo do futebol. Henry, o carrasco de 2006, disse acompanhar o Peixe e se queda encantado com o talento de Neymar. Adílson, jovem e promissor volante do Grêmio, declarou após a primeira partida válida pela semifinal da Copa do Brasil 2010, no Olímpico de Porto Alegre: “O Ganso é um fenômeno do meio campo.”.

De fato, o Santos voa em campo. O Santos encanta. Só Dunga não rendeu ao talento dos meninos. Mas uma coisa me incomoda, e me incomoda muito no time do Santos. Não são as brincadeiras, as danças nas comemorações dos gols, os dribles debochados, ou as palavras de Neymar sempre que faz um gol – ele berra aos quatro cantos “EU SOU FODA”. Menino ainda, precisa aprender algumas coisas. O que me incomoda, na verdade, pouco tem a ver com o Santos e com os meninos em si. É como o Santos e os meninos são tratados pela imprensa e pelos torcedores. Todos torcem pro Santos vencer, porque o Santos joga futebol. Esse é o argumento: o Santos joga futebol. Há uma supervalorização do futebol vistoso, técnico, como isso fosse genuinamente brasileiro.

Pois bem. Se o Santos joga futebol, o que joga a Internazionale de Milão? O que joga o Botafogo de Joel Santana? O que jogava o São Paulo tri-campeão brasileiro? Será mesmo que futebol é só o Santos que sabe jogar? Creio que não, caros amigos. Futebol não é aquilo. Futebol é também aquilo. Não estou aqui defendendo a tese de que o gol é um mero detalhe. Não é isso. Mas não acho que o futebol seja, necessariamente, a incessante busca pelo gol. Às vezes, evitar tomar um gol é mais importante que fazê-lo. Que caiam as pedras sobre mim, mas eu acho, que muitas vezes, a defesa é o melhor ataque.

Eu mesmo já critiquei, e muito, o Botafogo de Joel. Chamei de burocrático, de futebol feio e desmerecedor de glórias. Estive errado e não sabia. A arte não é só o lençol, há arte também naquele carrinho bem dado. O melhor exemplo é a semifinal da Liga dos Campeões entre Barcelona e Internazionale. Aos catalães só a vitória interessava, e partiram pra cima em Camp Nou. Aos italianos, o 0x0 era goleada. E o que vimos foi uma arte. Inteligência tática incrível. Com um a menos, a Inter parecia ter dois a mais. Marcava forte, sem dar espaço nenhum aos lampejos de talento de Lionel Messi. Trocando em miúdos, jogou a exata em antítese do Santos. Mas foi um espetáculo na mesma proporção.

Por fim, só queria dizer que o Futebol é mais do que o Santos joga. Ofensivamente, é o melhor time que vi jogar. Não tenho dúvidas disso. Mas o futebol não é só ofensivo. Jogar pelo resultado, aquele 1 x 0 chorado, também pode ser uma arte, desde que seja bem feito. E jogar bem não é só meter gol. Se assim fosse, Júlio César jamais poderia ser o grande jogador da Seleção Brasileira. E ele hoje o é.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Sobre o Caso do Lago Totobê.

Dizia o provérbio que as tribos de Huabacalaú e Huburû estavam em guerra desde milhares de anos antes do nada. Apesar da guerra entre os povos, os chefes das tribos estavam em constante troca e comunhão. Chefes eram chefes. Sua identidade como chefe prevalecia sobre sua identidade enquanto tribo. Há muito tempo, então, numa época em que a água era escassa e a comida rareava, os conflitos entre as tribos se acentuaram. Era uma questão de sobrevivência. Foi quando a tribo Huburû fez uma grande descoberta. O lago Totobê, rico em peixes e em água potável, trouxera, novamente, a felicidade para a tribo Huburû. A felicidade de Huburû representava a infelicidade de Huabacalaú, que queria, a todo o custo, ocupar o lago Totobê, fonte da riqueza alheia. Foi assim que um dia, Otregible, da tribo Huburû, foi ter com o chefe da tribo Huabacalaú, Edaçalca uma conversa em particular. Levou sua esposa e seus filhos e lhe perguntou, de líder para líder, de chefe para chefe, de grande-homem para grande-homem: “Edalcaça, pararás com a cobiça de teu povo ante o Lago Totobê, te peço em frente a minha esposa e a minha filha”. Nisso, Edalcaça respondeu assim: “Jamais invadirei tua tribo em vão. Custará muitos homens, será um esforço em vão. Tens minha palavra.” Otregilble se tranqüilizou e voltou para sua tribo, e tratou de tranqüilizar a todos, no que o suspiro geral confirmava o fato sabido: “Os chefes se respeitam”. Otregilble, assim, mandou recolher seu exército no mesmo instante. Não teria medo de um possível ataque ao lago Totobê.


No dia seguinte, porém, o lago Totobê havia sido tomado pela tribo inimiga. Otregilble não podia acreditar; sua palavra havia sido ferida, ele havia sido desonrado perante toda a tribo e perante a sua família. Toda a sociedade Huburû voltava-se para ele com repulsa e ódio: ‘Como pode deixar Totobê fugir de nossas mãos para o controle maldito de nosso maior rival, os Huabacalaú?’ Otregilbe estava desonrado. Entrou em ruína e demorou muito tempo para reconquistar novamente o respeito de sua tribo. Edaçalca triunfou, levando sua tribo Huabacalaú ao êxito e a vitória máxima.

(Depois explicarei o texto, tentem adivinhar!)

domingo, 16 de maio de 2010

A lamentar a ausência.

Não amigos, não é para lamentar a ausência de Ganso ou Neymar, mas a minha própria. Lamento a ausência do blog durante esta semana e prometo que voltarei a escrever na semana que vem, prometendo alguns textos bombásticos sobre a (ir) relevância do conceito de futebol-arte, a tradicional coluna e, quem sabe, se houver tempo, algo sobre a Final da Copa dos Campeões para um certo amigo alemão!


Abraços!

terça-feira, 11 de maio de 2010

As (in)coerências de Dunga

Para quem achava que poderíamos ter surpresas na seleção para a disputa de Copa, uma expectativa em vão. Ganso, Neymar, Ronaldinho Gaúcho, fora da “Família Dunga”, ficaram de fora. Um duro golpe para as chances de um futebol bonito e vistoso por parte da Seleção Brasileira, daqui há um mês.Podemos dizer ainda, sem que se considere absurdo, que a grande surpresa – ainda que nada muito inesperado – tenha se dado na ausência de Adriano dos 23 convocáveis. Mais a frente, abordarei esse assunto com mais cuidado.

Sabemos que cada brasileiro se considera um técnico em potencial, entendendo muito mais do que o próprio treinador. Em outras copas, aliás, sempre houve um embate entre algum dos jogadores clamados pelo povo e o comandante da vez, como vimos nos brilhantes artigo dos amigo João Gabriel Bellot e Lugui Burlamarqui.

Considero, porém, que para essa copa o barulho foi menor, porque nas outras o “cara” de fora era nada mais, nada menos, que o maior gênio da pequena área, Romário.

Curiosamente, em 2006, arrisco de dizer que ninguém de grande quilate ficou de fora, sendo ainda sim, nossa seleção um fracasso retumbante, refém da bagunça que se viu em Wegis, e do oba-oba protagonizado principalmente por Ronaldinho Gaucho, Ronaldo Fenômeno e Roberto Carlos. Não esquecendo, claro, do sobrepeso que Adriano já exibia há 4 anos atrás.

Durante a preparação para esse Mundial, Dunga sempre defendeu que aqueles excessos, transmutados em falta de comprometimento, não seriam aceitos para essa copa. E, de fato, nisso foi preciso.

Sempre defendi o trabalho do Gaúcho a frente da seleção. Com algumas críticas aqui e ali, e com algumas modificações aos jogadores levados para a África, penso que os resultados de Dunga são inquestionáveis. Uma Copa América, uma Copa das Confederações, o primeiro lugar com sobras nas Eliminatórias com vitórias maiúsculas fora de casa, contra a Argentina e o Uruguai, principalmente. Claro, empates com a Bolívia, Venezuela e Colômbia, em terras brasileiras, não foram bem digeridos, mas para mim fazem parte desse longo e tortuoso caminho na montagem de um time.

Coerência. Pautado nisto tivemos os 23 jogadores convocados, embora Dunga tenha agido tido um ar um tanto quanto incoerente ao chamar Doni, Kleberson e Gilberto. Estes, somados à Julio Batista, foram os mais criticados da lista.

O goleiro, reserva de um brasileiro na Roma, que nunca teve um brilhantismo à altura de uma seleção. Kleberson, que até 1 mês atrás era reserva no Flamengo. Julio Baptista, que muitos argumentam não ter futebol para ser o reserva imediato da grande estrela do grupo, Kaká. Gilberto que joga de meia no Cruzeiro, está em fim de carreira, mas pode ser justificado pela experiência.

Na defesa, o grande sucesso dessa seleção. Juan e Lúcio, fortalecidos pela grande copa que fizeram em 2006, permanecem como titulares. J. Cesar e Maicon são dois dos destaques do virtual campeão europeu e passam confiança. Na lateral esquerda, um buraco. Gilberto e Michel Bastos sequer ocupam a posição em seus respectivos times, jogando na meia. O primeiro tem vantagem por já ter disputado uma copa e ter bastante rodagem. No banco, o coringa dessa seleção, Daniel Alves, estrela do Barcelona, que pode jogar na direita, na esquerda e até na meia.

No meio, um batalhão de volantes. Gilberto Silva, o capitão, horroroso, mas experiente. Josué, horroroso, mas titular do Wolfsburg. Felipe Melo, que vive péssima fase na Juventus, mas que em minha opinião fez boas partidas com a camisa amarela, excetuando-se as expulsões idiotas em alguns jogos. Ramires, com relativo destaque no Benfica, campeão português. Elano, jogando no esquecido Galatasaray, que bate bem na bola e compõe bem a posição. No mar de volantes, uma ilha de talento, chamada Kaká. Tentando se recuperar das seguidas contusões, e de uma temporada em que foi ofuscado por Cristiano Ronaldo, no Real Madrid. É a grande esperança de criatividade da seleção.

No ataque, Luis Fabiano, matador, excelente jogador. Aposto que brilhará na Copa e irá para um grande da Europa. Robinho, que não decepcionou vestindo a amarelinha, apesar das alegações de que é amarelão. Nilmar, reserva de Robinho, atacante rápido, e de faro goleador. Excelente também. E Grafite, que entrou no lugar de Adriano, fez boa temporada no Wolfsburg e é o reserva de Luis Fabiano.

Para finalizar o assunto, Adriano hoje chorou. Mas esqueceu de todos os erros cometidos durante esses 5 meses do ano, que apagaram tudo que fez no Brasileirão do ano passado. Faltando treinos, jogos decisivos, confusões na Chatuba, e o que é pior: totalmente fora de forma...Joana Machado foi a grande zagueira, que barrou o sonho do menino irresponsável. Resta saber como reagirá a mais esse baque.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Torcer

Talvez um dos aspectos que mais me fascinem no futebol é o que acontece fora de campo, que pode influenciar ou não no que ocorre dentro das quatro linhas – isso pode ser tema de outro artigo, inclusive – e do qual podemos participar, ativamente ou não, por pouco mais de 90 minutos, até que o estádio se cale e retornemos para nossas respectivas casas, ouvindo no carro os prognósticos do jogo. Falo da Torcida, dos Torcedores, e do “Torcer”, quase como um subjetivo próprio, por isso os “t” maiúsculos.

Agenor vai ao jogo, grita, esperneia, rói as unhas, xinga a mãe do árbitro e do artilheiro da equipe que naquele jogo ainda não guardou o seu; no trabalho, no entanto, é tímido, quieto, e o mais educado do mundo, sendo incapaz até de soltar um “porra” quando algo dá errado.

Alexandre, por outro lado, é o mais agitado do mundo, não para de falar um segundo sequer, zoa tudo e todos, brinca com todas as situações. Ao entrar no estádio, porém, guarda tudo pra si, comemora os gols com tímidos soquinhos pro ar, não canta as músicas da torcida...É praticamente um novo homem, irreconhecível. Como se naqueles minutos em que a bola está em jogo, seu pensamento estivesse na pele daquele jogador que muitos chamariam de sem sangue, por não transparecer as emoções.

Ricardo bebe uma garrafa d´água, no máximo, no máximo, um refrigerante em lata, porque é totalmente adepto do estilo mais regrado possível. Executivo, anda sempre bem vestido. Se pudesse, não abandonava o social nem pra ir à praia. Quando pega o metrô, no entanto, que diferença. Une-se aos milhares de torcedores indo pro jogo, e não resiste quando o ambulante oferece “3 latinhas por 5, patrão, lá dentro é mais caro.” A partir daí, que mudança! Passa a comer inclusive aquele “chugatinho” vendido do lado de fora, bota faixa na cabeça, grita que seu time é o melhor do mundo. Sua mulher jamais reconheceria o marido, em um dia qualquer que não o domingo a tarde.

Que diferença! Aliás, que diferenças? Mas...francamente, quem não se reconheceu em um desses tipos ideais citados? Quem não viu seu amigo de arquibancada ali, nesses três estilos, ou em outros que não citei?

Alguns historiadores conservadores, costumam ter um certo preconceito com o aspecto cultural das sociedades. Ignoram o quanto isso pode ser fundamental para definir um povo, e o quanto os hábitos se tornam definidores. No Brasil, entretanto, essa prática do “torcer” é tão fundamental!

Domingo de sol, você já comprou o ingresso, mas seu amigo não. Então, tem que chegar cedo no palco. Fila, confusão, empurra-empurra (estamos no Brasil, camaradas!). É hora daquela cervejinha, de escutar o rádio atentamente, com os prognósticos pro jogão que se avizinha. Ali, nos arredores daquele cimento tão morto agora, mas tão vivo nas próximas horas, a galera chega. O burburinho aumenta, e com isso, seu coração passa a bater mais forte. Alguém, no meio da multidão, puxa um cântico. Você não resiste, vai no embalo. Os pelos do braço ficam arrepiados e você nem percebe. Quer extravasar esse sentimento. Entra no estádio.

Lá dentro, ao subir as rampas, vê as primeiras bandeiras, o barulho da bateria. Sorri, instintivamente, você tá em casa! A sua casa. Olha em volta, vê aquela enormidade que para alguns nada significa e pra ti, pra ti é sua religião. A cadeira, verde, amarela, branca, num instante, se torna o seu sofá. E volta a cantar, solta o grito dos pulmões. Abraça um, que até 10 minutos atrás era um desconhecido.

O estádio encheu. Agora, a multidão palpita. Entraram em campo. Seus onze guerreiros, são eles. Eles que vergam a camisa mais bonita do mundo, a do seu time. Sinalizadores, você grita o nome de cada um. Porra, eles são você. Você está neles. Começou, o juiz não dá a falta, xingamentos, será que hoje dá? Bola na área, o zagueiro sobe e não acha nada. Gol. Seu gol. Você quem fez, ainda que involuntariamente.

Abraços efusivos, após alguns segundos, poucos, o barulho se torna ensurdecedor. Os rivais, se calam. Passa o tempo, você vaia, olha pro relógio, “faltam 10”, grita. Agora, 5. Falta pro adversário. Levantam as mãos, em uníssono. A bola vai pra fora. O juiz apita. Acabou. A vitória é sua, e de toda aquela gente. Agora, corre pra casa, pra ver as mesas redondas, ler as notícias, o que seu ídolo falou.

Amanhã, na segunda, pode até ter esquecido que menos de 24 horas atrás, estava ensandecido, alucinado, tem contas a pagar! Problemas, estresse, tem prova no dia seguinte. Ah, se só houvesse domingos...

Torcer pra um time de coração envolve milhões de coisas: relações de parentesco – se esse hábito foi passado de avô para pai, e deste para o filho - de fidelidade – uma vez que ao torcer, faz-se uma escolha que durará para uma vida inteira, de civilidade – pois devemos aprender a ganhar e perder. Enfim, são múltiplas experiências adquiridas através do simples ato de se dirigir a um estádio.

Simples? Não poderia cometer um atentado maior aos amantes desse esporte. Por que o Dunga não leva o Neymar? O Gaúcho só faz besteira, como pode estar treinando o Vascão? E o Pet, reserva, do Vinicius Pacheco? Futebol, futebol.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Deu vontade de chorar

Não sou sensível às tragédias ou as conquistas da história: dificilmente me vejo lamentando um fato pregresso, ou, menos ainda, celebrando um acontecimento que passou. Claro, ao estudar sobre o genocídio judaico, ou a redução de homens à coisas, na escravidão moderna, fico triste porque me dou conta que o ser humano somos capazes de barbaridades de tal monta. Mas nunca me peguei chorando refletindo sobre o fato de que milhões pessoas morreram numa camara de gás.
Há mais: menos do que me importar com o passado, acho que nunca desejei desejar o sonho de qualquer historiador: construir uma máquina do tempo e migrar para algum acontecimento espetacular...Tudo isso sempre me pareceu absolutamente ridiculo.
Jamais quis estar na Revolução Francesa, na Revolução Rússia, na Idade Média (seja lá o que de importante possa ter acontecido nesta época), na abolição da escravidão, na Queda do Império Romano, na Grécia antiga para poder (ora viva!) conversar com Sócrates. Todas estas coisas, para mim, soam como patéticas...

Foi quando hoje, assitindo hoje na ESPN um documentário sobre Rivellino (Da Série: Os Cinquenta maiores jogadores de todos os tempos), me vi, ao término do documentário, em lágrimas. Não havia motivos para chorar, o documentário era alegre, tudo aquilo já havia se passado, "é apenas futebol", pensava. Mas as lágrimas escorriam, uma a uma, descendo pela face. Era emoção. Felicidade e tristeza, ao mesmo tempo. Felicidade porque pude perceber do que a humanidade é capaz, da arte em estado bruto. Tristeza, por poder saber que isso existiu, mas apenas saber, não ter vivido. Deu vontade de chorar. E chorei.

Vendo aquela Seleção, percebi que estava diante de uma linda obra de arte, de uma conquista monumental da História. E pensei em todos aqueles jogos fantásticos que ocorreram na Copa de 70. Brasil X Inglaterra. E naquele gol incrível de Carlos Alberto. Espirito da equipe, era o triunfo do potencial humano em um só gol, comparável às grandes obras de um Mozart, de um Picasso, de um Rembrandt! Neste instante, pela primeira vez em minha carreira (curta, é verdade) de historiador desejei poder construir minha própria máquina do tempo e partir rumo àquela final, Brasil X Itália, sem saber o que iria acontecer... E, sentir, no fundo da minha alma, estar diante de um acontecimento único na história da humanidade. Que se explodam as Revoluções Francesas. Não há na história da humanidade lugar melhor para estar do que na Copa de 1970. Final: Brasil X Itália.

PS: Esqueçam o que escrevi. Abobrinhas sobre Ballack, elogios a escoceses, asneiras falando de etnocentrismo, estupidezes sobre o futebol inglês. Não houve, não haverá, não pode haver Seleção Brasileira como a de 1970. Os alemães desengonçados tentram em vão nos vencer, os catenaccios italianos morreram inúteis nas praias, a catimba porteña (argentina e uruguai) foi inócua, os ingleses perceberam, enfim, que haviamos aperfeiçoado muito o que eles se vangloriavam ter criado. Pelé, Tostão, Rivellino, Carlos Alberto, Jairzinho...

Aquilo não era futebol; era arte, plena de transcendência, carregada com imanência...

Convocação da Seleção Alemã.

À medida que as seleções forem sendo convocadas, as postarei aqui. (as principais, claro)



Goleiro: Manuel Neuer (Schalke 04), Tim Wiese (Werder Bremen), Jörg Butt (Bayern München) -


Defensores: Dennis Aogo (Hamburger SV) Jerome Boateng (Hamburger SV), Arne Friedrich (Hertha BSC Berlin), Philipp Lahm (Bayern München), Per Mertesacker (Werder Bremen), Marcell Jansen (Hamburger SV), Serdar Tasci (VfB Stuttgart), Holger Badstuber (Bayern München), Heiko Westermann (Schalke 04), Andreas Beck (1899 Hoffenheim) -



Meio-campo: Michael Ballack (FC Chelsea), Marko Marin, Mesut Özil (alle Werder Bremen), Piotr Trochowski (Hamburger SV), Sami Khedira, Christian Träsch (beide VfB Stuttgart), Toni Kroos (Bayer Leverkusen), Bastian Schweinsteiger (Bayern München) -



Atacante: Cacau (VfB Stuttgart), Mario Gomez, Miroslav Klose, Thomas Müller (alle Bayern München), Stefan Kießling (Bayer Leverkusen), Lukas Podolski (1. FC Köln)

quarta-feira, 5 de maio de 2010

O lugar de Michael Ballack na história do futebol

Coluna: Grandes craques

"Eis que temos a pior Alemanha de todos os tempos se preparando para uma Copa do Mundo". Era isso que eu estava habituado a ouvir, pelo menos de grande parte da imprensa brasileira, antes do início da Copa de 2002. Havia uma espécie de consenso sobre o fato de que a Alemanha era um time patético, que, com dificuldade, avançaria às fases finais. Nas últimas duas Copas, a celebrada geração de Klinsmann não havia ido além das quartas-de-final, sofrendo de eliminações vexatórias, em 1998, para a Croácia, de Davor Suker, Prosinecki e Boban e, em 1994, para a Bulgária do carequinha Letchkov e de Stoichkov. Nesse ínterim, apesar de um título europeu em 1996, a lembrança mais recente era a eliminação na primeira fase(em último lugar!) na Euro 2000. A má campanha nas eliminatórias aliada, que culminou com um derota vexaminosa no jogo contra a Inglaterra, em Berlin, por 5 a 1, diziam muito sobre aquela seleção alemã. Mais do que isso, a nula experiência do técnico Rudi Völler era um componente de dúvida a mais sobre o destino do selecionado alemão. Verdade que o Bayer Leverkusen e o Bayern de Munique tenham alcançado alguns bons resultados nos torneios europeus, mas eles contavam com jogadores estrangeiros, como Lúcio e Lizarazu, e ficava difícil saber se a força destes clubes se refletiria na Seleção Alemã. Entretanto, havia, num destes times, um jovem, então com 24 anos, de grande potencial. A final da Champions daquele ano, mais conhecida como a final do "gol de Zinedine Zidane", ofuscou a existência de um adversário, o Bayern Leverkusen, e de seu principal jogador: Michael Ballack.
Em 2002, com a indispensável ajuda de Oliver Kahn e de Miroslav Klose, um Mr. World Cup, Michael Ballack fez uma Copa exuberante. Contra os Estados-Unidos, nas quartas-de-final, exibiu um futebol de alta qualidade, de nível internacional. E contra a Coréia do Sul, anfitriã, foi simplesmente espetacular. Na semi-final da Copa de 1990, Alemanha contra Inglaterra, num dos episódios mais marcantes da estória das Copas, Paul Gascoigne, ao receber um cartão amarelo, desatou a chorar. Aquele cartão significa que Gazza estaria fora de uma possível final e tudo aquilo foi demais para o jovem jogador inglês. O choro, quase como uma criança, parecia ser a única opção. Visivelmente desistabilizado, Gazza, embora tenha sensibilizado o mundo, não conseguiu levar a sua Inglaterra ao triunfo ante a Alemanha de Matthaus. Doze anos depois, porém, o principal jogador alemão, Ballack sofreria do mesmo infortúnio: o cartão amarelo aplicado pelo árbitro suíço Urs Meier significava a sua ausência da final. O jogo ainda estava empatado sem gols. E, se Ballack não retornasse rapidamente ao jogo, sua Alemanha estaria fora  da final contra o Brasil. Mas Ballack não só retornou ao jogo, frio como um bom alemão, como ainda marcou o gol da vitória. Alemanha 1 x 0 Coréia do Sul, gol de Ballack.
Na final, sua ausência representou muito para o Brasil. O Brasil dominou o meio-campo com facilidade e acabou vencendo o jogo por 2 x 0. Mas, certamente, a pergunta "E se Michael Ballack estivesse em campo?", continuará ecoando por muito tempo na cabeça de brasileiros e alemães.

Mas a geração de Ballack ainda conseguiu fazer muito mais por seus companheiros e por sua seleção. Na Copa da Alemanha, uma semi-final, com uma eliminação absolutamente injusta na semi-final, contra a Itália. No jogo mais espetacular daquela Copa, a Itália, comandada pelos estupendos Fábio Grosso, Francesco Totti, Andrea Pirlo, venceu a Alemanha numa prorrogação soberba. E na Euro 2008, novamente, a superação: a derrota na final contra a Espanha, o time dos sonhos, por 1 a 0, não diminiuiu em nada a bela campanha da Seleção Alemã. Na minha lembrança, porém, o gol de Lahm, nos acréscimos contra a Turquia, é o que ficará daquele time que mostrou muito talento na Suíça.

Em 2010, Michael Ballack terá sua última chance de título. A Alemanha é sempre favorita, mas enfrentará uma chave bastante complicada e imagino que tenham muita dificuldade de ir para além das quartas e semi-finais. Mas Alemanha, depois do Brasil, é o time mais forte em Copas do Mundo, e eles podem, sim, surpreender. Não duvidem de geração de Ballack. Ballack chega com 33 anos para esta Copa do Mundo. Está mais velho, mais cansado, mas, ao mesmo tempo, está mais experiente. Se não tem o vigor físico de outrora, tem uma grande bagagem sobre suas costas e isso pode ser crucial para que ele lidere o seu time.

Por tudo que fizeram dentro de campo, alcançando ótimos resultados, independente do título em 2010, o nome de Ballack e de sua geração estará gravado para sempre nos anais da estória do futebol, ao lado da geração dos grandes do futebol alemão: Fritz Walter, Beckenbauer, Rummenigge, Lothar Matheus, Klismann e Michael Ballack...

terça-feira, 4 de maio de 2010

"Goosebumps" ou o Deus-Ganso

"Agora vou para casa ver o Ganso ser endeusado", disse um amigo (o Gondim, falo logo!), depois da pelada de segunda, referindo-se ao fato de que, ao chegar em casa, veria o "Linha de Passe", programa que, certamente, os comentaristas se derreteriam de elogios ao Paulo Henrique Lima, o Ganso, meio-campo do Santos, após atuação exuberante contra o Santo André. Vá lá. Verdade que desde a geração de Sócrates não aparece um sujeito tão lúcido, com tanta noção do espaço do campo de futebol, quanto este tal de Ganso. Se me perguntassem, Luiz, você levaria o Ganso? Sim, amigos, eu levaria. Mas, se indagado sobre o fato de que seria injusta a sua não-convocação? Não hesitaria em afirmar que não.



Dentro de campo, não gosto do trabalho do Dunga. Acho que ele escala mal o time, não gosto do estilo de jogo que ele impõe à equipe e, muito menos, gosto de sua "filosofia" de trabalho. Principalmente, revolta-me o fato dele não ter "renovado" a seleção. Acho inadmissível que o Gilberto Silva, aos 33 anos, seja titular absoluto do meio-campo. Ou, na pior das hipóteses, que seu reserva imediato, tenha 31 anos, Josué. O trabalho do treinador da Seleção é, também, prepará-la para os que se seguirão a ele, no comando da canarinho. Também não gosto do trabalho do Dunga, no extra-campo. Ele trata mal a imprensa, sem muita razão. Mas, principalmente, Dunga não vai à estádios de futebol. Alguém aqui já viu o Dunga numa partida de futebol? Eu vi uma ou duas vezes. Existe uma enorme diferença entre o jogo da televisão e o jogo dos estádios. O técnico da Seleção deve trabalhar dia e noite, noite e dia. Dedicação exclusiva. Dunga parece achar que só trabalha quando a Seleção está reunida, e isso não é verdade. Fábio Cappello, da Seleção inglesa, está sempre freqüentando os jogos da Premier League. No mesmo dia, assistiu em Old Trafford, Man Utd X Spurs, para, rumar a Londres, e assistir um belo Chelsea X Arsenal. Mas o Dunga não está em nenhum estádio. Não acompanha os selecionáveis de perto, ao vivo e a cores. Talvez, até por isso, insista com um Doni, eterno reserva, no banco da Seleção.

Há, porém, um ponto em que acho o trabalho do Dunga louvável: a convocação. O Dunga, na medida do possível, convocou razoavelmente bem. Discordo, sim, de algumas de suas preferências, mas são preferências e as preferências, muitas vezes, são individuais. Particularmente prefiro o Pato ao Nilmar. Mas é aceitável que alguém goste mais do Nilmar e queira utilizá-lo. Alex, para mim, é mais zagueiro do que todos (a exceção do Lúcio). Mas compreendo que o Dunga tenha uma predileção por Luisão. Detesto o Ramires. Prefiro o Lucas ao Gilberto Silva. Mas, em termos gerais, o Dunga não comete nenhuma injustiça absurda. É impossível que duas cabeças pensem da mesma forma quando se trata de 22 jogadores. Cada torcedor, cada brasileiro, achará que se deve levar determinado jogador para determinada posição. A eterna máxima: duas cabeças não pensam da mesma forma. Mas Dunga não comete nenhum absurdo. Kléberson, talvez. Mas, dificilmente, Kléberson irá à Copa. Doni, também, me parece um ser estranho na Seleção. O resto é o resto. Assim como cada um é cada um. Adriano também fez muita bobagem e não merece ir à Copa.

Levar o Ganso, agora? Por que? Defendo ainda a convocação do Ronaldinho Gaúcho, acho que ele merece uma chance, por tudo que fez na temporada. Ele é um jogador capaz de mudar uma partida no segundo tempo, de imprimir uma nova dinâmica ao time. Coisa que o Júlio Baptista não é. Coisa que ninguém no banco da Seleção é capaz de fazer. Mas o Ganso? O Neymar? Não, amigos, não acho que tenha chegado a hora. Ganso e Neymar serão grandes jogadores. Mas até agora não provaram nada a ninguém. Disputaram um campeonato estadual muito bem. E só. Sem dúvida que merecem uma convocação, mas será que merecem "a" convocação, aquela mais aguardada por todos, aquela que acontece de quatro em quatro anos? No no lo creo. Mas, no ano passado, o Ganso teve atuações risíveis (como queria o Douglas Costa de titular!) no campeonato mundial sub-20 e o Neymar, jogando de salto alto, crente na arrogância à brasileira, de que a "Suíça jamais terá um time bom no futebol", foi eliminado na primeira fase. Verdade que acontece muita coisa de ano para ano, e verdade que, quando somos jovens, mudamos com uma rapidez que é imperceptível até para quem está em processo de mudança. Um ano é muita coisa na vida de um jovem de 17 anos. E o Neymar deste ano já não é mais o Neymar que era antes. Isso também vale (em menor proporção) para o Ganso. Mas acontece que ambas as experiências internacionais dos dois foram um fracasso retumbante. Amigos, não culpem o Dunga se não forem convocados... Podem culpá-lo até, mas não por isso...


Outras não convocações:

Zico, 1974. Zico ainda não era Zico. Mais já desfilava talento e esbanjava categoria. Uma situação muito próxima a de Ganso agora. Zico acabou não indo.
Falcão, 1978. Havia um clamor nacional pela sua convocação. E Falcão já era Falcão. Tinha sido eleito o melhor jogador do campeonato brasileiro. Uma das maiores injustiças da estória das Copas... Talvez, mesmo em 1978, ainda houvesse certa resistência em se convocar jogadores fora do eixo Rio-SP.

Romário, 2002. Mais do que conhecida. O Brasil acabou campeão, mas poderia ter sido campeão com Romário junto.


Alex, 2006. O Alex poderia ter disputado uma Copa, pelo menos. Sua carreira merecia isso.


Maradona, 1978. Maradona fora de uma seleção argentina? Isso parece ridículo, mas não foi para Menotti em 1978. Ele não levou o craque, ainda muito novo, com 18 anos, mesmo já tendo sido convocado para algumas partidas pelo selecionado principal.
Quem lembrar de mais não-convocações, pode postar aqui!