domingo, 4 de julho de 2010

A queda de Dunga e das suas convicções




Muito se falou durante os quatro anos de preparação entre o fracasso da Copa de 2006 e o torneio de 2010. Deveria existir algo novo, uma mudança de postura em relação ao que ocorreu na Alemanha. O mantra repetido, em quase todas as entrevistas passava sempre pelas palavras “comprometimento” e “dedicação”.

Dunga convocou mais de 80 jogadores nesse período de tempo, passando por experiências esdrúxulas como Afonso Alves e, por outro lado, mantendo jogadores do fracasso de 2006, como Kaká e Robinho. Este último, aliás, brilhou muito nas conquistas da Copa América e nas Eliminatórias da Copa, quando o Brasil conquistou a classificação com antecedência e tranqüilidade, fato que não tinha acontecido nas últimas tentativas com Parreira e, sobretudo, Felipão.

Para as conquistas desses torneios, Dunga apostou num grupo fechado, unido, que não tinha espaços para mais de uma ou duas estrelas, bem diferente da tradição brasileira. Preferiu cordeirinhos à bad boys, disciplina tática – questionável – ao invés de talento. E, desse modo, foi extremamente bem sucedido. Se não foi unanimidade – ninguém conseguiu – junto ao povo, mostrou bons resultados. Inquestionáveis, até. Muito por conta disso, fui um dos seus grandes defensores.

Na estada na África do Sul, treinos fechados para a imprensa, isolamento, transformando a seleção quase num quartel, muito diferente da bagunça em Wegis, que foi apontada por muitos como responsável por aquele estrondoso fracasso, culminado com a derrota pra França. Nas coletivas, usou e abusou da agressividade, que teve seu ápice na discussão ridícula que teve com Alex Escobar, da Rede Globo e Sportv. Isso tudo seria sustentável e, possivelmente esquecido em caso de título. O treinador seria glorificado e pouco se falaria sobre tudo isso. Mas Dunga correu um risco. Acabou se isolando, criando problemas onde não havia, e se houvesse um fracasso, seria apontado como culpado de forma irrefutável, praticamente sem defensores, principalmente dentre a imprensa e a poderosa Rede Globo.

Talvez isso tenha sido lembrado pelo gaúcho, quando gritava descontrolado à beira de campo, durante a derrota para a Holanda.
Depois de uma primeira fase razoável, num grupo difícil e de alternar boas exibições -Costa do Marfim – e péssimas – Portugal e, sobremaneira, Coréia do Norte – o Brasil passou em primeiro no seu grupo. Calcado no sucesso de uma defesa campeã da Europa e que tinha sido salva em 2006, apesar do naufrágio do resto do time, baseando seu estilo de jogo no contra-ataque, e em lampejos individuais de Kaká, enfrentaria o Chile, velho freguês, nas oitavas de final.

Uma boa exibição, talvez a melhor até o momento, contra um adversário que não foi bem e cometeu o erro de partir pra cima, o Brasil sobrou, e enfrentaria a Holanda, grande seleção que não havia feito nenhuma partida espetacular até então. Seleção esta que perdeu com gerações ainda melhores que esta, de Sneijder e Robben, em 1994 e 1998. Só lembrarmos dos irmãos De Boer, Bergkamp, Seedorf, Overmars, Cocu, Kluivert, entre outros.

Um primeiro tempo excelente, com um gol de Robinho depois de passe sensacional do contestado e alucinado Felipe Melo e outras inúmeras oportunidades perdidas. A classificação estava bem encaminhada, e apesar disso, o que se via em campo era um time nervoso, violento, de forma injustificável. Reflexo de seu treinador? Provavelmente.

Nos 45 minutos finais, o castelo ruiu. A defesa, logo ela, tão elogiada, falhou duas vezes, incluindo ai um frango do melhor goleiro do Mundo, Julio Cesar. Depois do primeiro gol, a seleção se perdeu, sabe-se lá porque se abalou de forma tão grande que o segundo foi apenas uma conseqüência. Pra piorar, Felipe Melo pisa em Robben e é expulso, o que segundo muitos, até demorou pra acontecer. Pra tentar mudar alguma coisa, Dunga tira Luis Fabiano, e coloca Nilmar. E só. Não havia mais ninguém capaz de mudar um jogo.

E aí, que Ronaldinho Gaucho, Ganso, Neymar, Adriano e outros devem ter sorrido. Porque foram preteridos pelo “comprometimento”. Josués, Klebersons e Grafites foram levados, e sequer utilizados de forma regular, enquanto outros que podiam mudar um panorama de jogo, ficaram por aqui, por vários fatores. As convicções de Dunga, que tanto o ajudaram, sentiram esse peso e por falta de qualidade mesmo, não puderam ajudar. O Brasil caiu.

A exemplo de 2006, onde todos os medalhões foram levados, nas quartas de final. O treinador, questionado pela mídia e pela torcida, já sabia que não continuaria para 2014, mas pode se tornar persona non grata na sua terra. Dificilmente será chamado pra programas esportivos.

Que a lição seja aprendida para 2014. Uma geração talentosíssima já se mostra: Ganso, Coutinho, Neymar, Breno, Lucas, Denilson, Thiago Silva...E que, daqui a 4 anos, na nossa casa, possamos comemorar o tão esperado Hexa.