sexta-feira, 30 de abril de 2010

Domingo, não vou ao Maracanã...

e por um bom tempo! Não, não é uma dessas promessas furadas de torcedor, após mais um insucesso do seu time de coração. Quem dera se fosse! Bastariam duas vitórias e um futebol um pouquinho melhor, que lá estaria eu, novamente, com a mesma camisa encardida (porém, vitoriosa, antes que digam o contrário!), feito mulher de malandro, acreditando na regeneração improvável do agente das minhas recorrentes decepções. Entretanto, daqui há alguns poucos meses, nem que quisesse quebrar a tal promessa, poderia. O palco, onde se passa boa parte dessa minha intensa e turbulenta relação com o meu time, fechará. Ainda não sei por quanto tempo (nem mesmo a corja do terno e da gravata, liderada por Engomado Paes e Sergio Pedro Álvares Cabral Filho, sabe ao certo). E pior: nem sei como ele vai ficar. Ou melhor, sei, mas não quero acreditar. O tão afamado “padrão FIFA” será enfiado goela abaixo, norma por norma, sem ao menos uma análise anterior do histórico do paciente. O processo civilizador, e sua tendência uniformizadora e universalizante, iniciará sua caminhada rumo a conquista de territórios. Um desses, é o Maracanã. Ponto estratégico, um dos mais preciosos bens do futebol brasileiro, presa fácil para os olhos gananciosos do colonizador. Tudo bem, essa última parte foi carregada de dramaticidade, concordo. Mas, você, leitor, já foi ao Maracanã ao menos uma vez na vida e ficou em pé, na arquibancada verde, bem ao lado da torcida, de sua bateria, de suas bandeiras, cantando e participando de toda aquela festa por pouco mais de noventa minutos? Se já se deu esse presente, compreende o tom “fim do mundo” das minhas palavras. Não sou contra a modernização do estádio. O maraca possui uma série de problemas, todos sabem. Duas entradas e saídas apenas, poucas catracas, uma quantidade pequena de bilheterias que funcionam e um anel exterior estreito para a o numero de pessoas que circulam, principalmente ao final do jogo, são alguns deles. Porém, fica a pergunta: será que o projeto do “novo Maracanã” resolverá essas deficiências? torço para que sim. Certeza, não tenho mesmo. Até porque a preocupação principal parece estar em disseminar uma “cultura-padrão” que estabeleça as regras de comportamento no estádio (vide a questão das vuvuzelas, que quase foram proibidas na Copa de 2010). Além do mais, você consegue imaginar, no espaço reservado ás torcidas organizadas, todos procurando o setor tal, fileira tal e numero sei lá o quê para sentar? E porque tem que se imaginar isso? Será mesmo que a partir daí a violência cessará dentro e fora do estádio? Sei apenas de uma coisa: não quero me comportar como público de teatro ou cinema em um estádio de futebol. Imagina: Adriano arranca do meio de campo, está mano a mano com o zagueiro, você levanta para ver o lance e, sem mais nem menos, ouve um ensurdecedor “seeeeentaaaaaaa!”. Ou, aquele tal de Álvaro erra, pela milésima vez, na saída de bola e você resolve xingar a plenos pulmões “seu ..., vai ...!” e, surpreendentemente, ouve um “Xiiiiiiiiiiiiiiiiiii!” generalizado, e frases como “vai pra casa, boca-suja!”, “que coisa feia!”....situações como essas parecem inimagináveis, não é? ... o quê? Exagerei....de novo? beleza, parei. Fim do tempo regulamentar. Mais meia dúzia de palavras e o “vidente-saudosista-exagerado” o deixará em paz. Para terminar, apenas uma nota de esclarecimento em minha defesa. Não tenho medo do “moderno” (desde que não seja uma roupagem para uma ideologia com ares hegemônicos!). Apenas gostaria de continuar aproveitando o prazer proporcionado pelo que é considerado “antigo”.

Kenny Dalglish, o Zico de Liverpool

Amigos,
        Este texto surgiu de uma afirmação feita por um amigo bastante interessante: "Não existe jogador da categoria de Zico ligado à história de um clube da mesma forma que ele ao Flamengo. Quando se pensa em Flamengo, pronto, a resposta imediata é Zico, ou vice-versa." Esta afirmação foi, na minha cabeça, pouco a pouco, transformando-se em indagação. Será verdade? Pensava, revirava os livros velhos, pesquisava na internet e nada. Realmente, a ligação Flamengo e Zico parecia ser única na história do futebol mundial. Poderia até encontrar algum jogador ligado a um clube; é o caso de Tom Finney, marco da estória do futebol inglês, ícone do Preston North End. Mas por melhor que tenha sido Tom Finney (e ele foi um excelente jogador) o Preston North End nunca foi o Flamengo. Franz Beckenbauer e o Bayern, talvez? Mas Beckenbauer, assim como Pelé, Maradona, sempre foi um ícone da Alemanha, não do Bayern de Munique. Beckebauer sempre será o Kaiser do Império Alemão; jamais o Rei da Bávaria. Cruijff? Cruijff, é verdade, tem uma ligação ímpar com o Barcelona, chegou a jogar pela seleção da Catalunha e batizou o nome do seu filho de Jordí, um nome claramente catalão. Mas Johann é um símbolo da Laranja Mecânica, não do Barça. E ele jogou por tantos clubes! Ajax, Feyenoord e uma dúzia de clubes que ninguém sabe o nome dos Estados Unidos. Minha última esperança: Di Stefano. É verdade quando se pensa em Di Stefano, imediamente,  Real Madrid vem à cabeça. Lembra-se do "dream team" dos anos 50, com Kopa, Puskas, Didi, Gento, Santamaria. Mas não me parece haver uma idolatria semelhante. Este time tem uma espécie de aura mítica, única na estória do futebol. Às vezes, tenho a impressão de que não existiu, foi inventado. E, cá para nós, a torcida do Real Madrid não é capaz de amar alguém com a mesma paixão que a torcida do Flamengo ama o Zico. Portanto, quando estava quase transformando a indagação em afirmação e dando o braço a torcer para este meu amigo, eis que um nome me vem à mente: o escocês Kenny Dalglish. Claro, que, em imediato, lembro de seu sobrenome: Liverpool F.C. Zico, "you'll never walk alone".
     Kenny Dalglish nasceu na Escócia no ano de 1951. Na infância, fora torcedor do Glasgow Rangers, mas, desesperado para jogar futebol em alto nível, começou nas categorias de base (academy) do Celtic F.C. Jogou por lá por doze anos, sendo seis no time profissional. Neste período conquistou três "doubles" (a Copa da Escócia e o Campeonato Escôces no mesmo ano) e um total de quatro campeonatos escoceses. Em 1977, para suprir a ausência da estrela guia da constelação liverpooldiana, Kevin Keegan, Dalglish transferiu pela soma recorde de 500.000 libras. (logo Trevor-Francis seria o primeiro a atingir a cifra do "um milhão"). Nem o mais otimista torcedor do Liverpool poderia prever o que estava para acontecer em Anfield. A chegada de Dalglish alterou radicalmente a história do clube. O Liverpool F.C viveria sua "golden age", com Dalglish à frente do time. Algo muito parecido com o que o Flamengo viveu com Zico à sua frente. O Liverpool tornou-se, sem soma de dúvida, o maior time da primeira divisão inglesa e um dos melhores da europa, um verdadeiro esquadrão futebolístico. Nos anos que se seguiram, a chegada do infernal galês Ian Rush apenas serviu para consolidar a posição do Liverpool como um time quase-imbatível. Aos céticos, bravos defensores da arrogância à brasileira e que acreditam, fielmente, que não existem bons jogadores de futebol para além da praia de Copacabana, algumas conquistas de Dalglish: no total, em nove anos de clube, foram seis campeonatos ingleses, quatro "Ligas dos Campeões da UEFA" e, o feito mais incrível, a famosa dobradinha na temporada 1986 (em séculos de história, só Arsenal, United e, mais recentemente, Chelsea alcançaram tal feito). A final da FA Cup de 1986 é um marco histórico por vários motivos. Primeiro, é a final pós-Heysel. O jogo acontece logo após a tragédia de Heysel, que havia ocorrido poucos meses antes. Segundo, é a primeira vez que um time de determinado país joga sem um "nascido" naquele país na estória do futebol mundial em uma final de um torneio grande. O Liverpool não tinha um inglês, não confundir com britânico, na sua esquadra. Do goleiro (que nasceu no Zimbwabe) ao ponta-esquerda (nascido na Dinamarca), todos eram estrangeiros. Ou seja, um marco da globalização do futebol que marchava em alta velocidade. Terceiro, o jogo era contra o Everton. Um dos maiores rivais do Liverpool, que à época tinha um timaço com Lineker comandando o ataque. O quadro estava montado. Mas a parte vermelha da cidade não deu chance à parte azul, e venceu o jogo por 3 a 1. Querem mais? Dalglish, além de jogador, era treinador. E se tornou o primeiro "player-manager" a se sagrar campeão da FA Cup.

Na carreira de treinador, ainda, Dalglish é o único que conseguiu na Premier League quebrar a hegemonia de  Arsenal, Chelsea e Manchester United. Na temporada 1994-1995, levou o Blackburn de Alan Shearer, a conquista do título nacional.

Foi duas vezes eleito o melhor jogador do campeonato inglês, 1979 e 1983. E o segundo maior jogador da Europa perdendo para o maior jogador francês de todos os tempos, Michel Platini. É o maior artilheiro e o jogador com mais convocações da Seleção Escocesa. Foi eleito em votação pela torcida do Liverpool como o maior jogador de todos os tempos que passaram por Anfield Road.

Esqueçam tudo o que vocês pensam sobre futebol inglês. Esqueçam se vocês acham que Steven Gerrard é o maior jogador da estória do Liverpool. Ele ocupa a segunda posição. O primeiro lugar é apenas de um homem: Kenny, "The King", Dalglish. Kenny é a prova absoluta de que o Buckingham Palace não é a casa exclusiva da família real. Alguns de seus membros também moram em Liverpool. Mais precisamente, em Anfield Road. Palmas para "The King".

Zico contra Dalglish

Zico enfrentou Dalglish por algumas vezes. Contra os que acreditam que o Liverpool utilizou o time reserva, Dalglish esteve na final de 1981, quando o Flamengo venceu por 3 a 0. A verdade, porém, é que os times europeus nunca levaram este "Mundial" muito a sério. Sempre convictos, a arrogância à européia, de que tiveram o melhor futebol do mundo, o verdadeiro título sempre foi a Liga dos Campeões da Europa. Recentemente, assistindo a um documentário no Youtube., vi esta partida sendo tratada como o "amistoso" entre o Benfica e o Santos. "Friendly Match".
Dalglish disputou três Copas do Mundo, 1974, 1978, 1982. Em 1982, jogou contra o Brasil, mas não começou como titular por estar sentido um problema físico, entrou no lugar de Andy Gray (narrador da Sky Sports). O resultado do jogo, 4 a 1 para o Brasil, com Zico marcando gol...Mas isso não importa muito. Importa comparar que a idolatria  que os torcedores do Liverpool tem para com Dalglish é equivalente ao amor do torcedor rubro-negro com Zico.

Vou além: acho que ambos estão no mesmo patamar de craques do futebol mundial, ao lado dos grandes, Maradona, Michel, Rummenigge... Lembrarei sempre de Eto'o, que, quando era um jogador espetacular no Barcelona, disse, sem razão, que "não ganhava o prêmio de melhor do mundo", porque não se chamava "Etoodinho"... "Dalglishinho" talvez fosse muito mais respeito entre nós do que Kenny Dalglish é.

Vídeos:

Aqui dois vídeos, o primeiro de Dalglish at his best, o segundo ele jogando o "jogo das estrelas" em Anfield e fazendo, não falei que era igual ao Zico? :
http://www.youtube.com/watch?v=XvHQV76OT4A&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=Dxw_XTnZ1RY&feature=fvst


Este texto sobre o Dalglish inaugurou uma espécie de coluna minha, que será sobre grandes jogadores que fizeram história no futebol, principalmente, aqueles desconhecidos do público brasileiro.



quarta-feira, 28 de abril de 2010

A Quarta-Feira do ano

A quarta-feira do Ano. Não há título que possa transmitir melhor a mensagem do que este. Duas partidas que fazem fãs do esporte bretão contarem os minutos para que comecem. Na primeira, duelo entre Barcelona x Inter de Milão, considerados por muitos como a final antecipada da Liga dos Campeões da Europa. Na segunda, duelo entre os dois times de maior torcida do Brasil, que poderia, sim, estar decidindo um título e que por ocasião do acaso - ou da falta de competência rubro-negra - se encontram nas oitavas de final da Copa Libertadores. Na Europa, a Inter tenta voltar a uma final que não frequenta há muito, muito tempo, contra o time que talvez jogue o futebol mais bonito do mundo, ao lado do Santos, no momento. Mais que isso, para nós brasileiros, o duelo tem confronto entre Messi - melhor do mundo, e grande esperança da grandiosa seleção argentina - e a defesa do time italiano, composta por três titulares da seleção de Dunga. No primeiro jogo, há uma semana, na Itália, "La Pulguita" foi anulada por um Lúcio brilante, que também já havia acabado com Didier Drogba em fase anterior da competição. Comandadas pelo holandês Sneijder e pelo argentino Diego Milito, a Inter fez 3x1 e pode perder por um gol hoje. Vantagem importante, se levarmos em conta que o Barça tem um meio campo fabuloso, que conta com Xavi e Iniesta, dois volantes-meias que dão gosto de ver jogar, somados ao craque sueco Ibrahimovic - que não mostrou ao que veio, aliás - Daniel Alves, Pedro, e Messi. Na fase anterior, um sacode do Barça no Arsenal. E hoje, o que teremos? Será a derrota do vistoso futebol espanhol que ganhou tudo que disputou recentemente? Respostas, a partir das 15:45. Jogaço, imperdível. Á noite, provavelmente o jogo mais esperado do ano, mais até do que o clássico pela Champions. Pesquisa do Data Folha - muito questionável - apontou empate técnico entre as duas torcidas, para aumentar ainda mais a rivalidade. As duas maiores torcidas do Brasil frente a frente, em um Maracanã lotado. O Flamengo, viveu uma crise mesmo tendo se classificado - talvez sem merecer, é verdade - para as oitavas da Libertadores. Rogério Lourenço chegou, aumentou o tempo de treino, e trouxe o menino Rômulo, esquecido desde 2007, de volta, para aumentar a altura da zaga. Na frente, Adriano tentando aplacar a ira da torcida que tanto lhe amou, ano passado, e que esse ano acena com uma separação. E, principalmente, mostrar a Dunga que merece um voto de confiança nesse 2010 tão turbulento. O Corinthians, que passou como melhor time da primeira fase, com um elenco recheado de estrelas e completo. Sem turbulência. E, talvez, um dos momentos mais esperados, em especial pelos rubro-negros. O Confronto - assim mesmo, com letra maiúscula - entre Ronaldo Fenômeno e a torcida rubro-negra. Duelo que foi adiado ano passado, mas que agora acontecerá. Como irá reagir o experiente jogador ao confrontar à torcida que fez parte da sua infância e dos seus sonhos, até que resolvesse assinar com o Corinthians, e depois tendo falado inúmeras besteiras sobre a mesma? Superará, como já enfrentou muitos desafios em sua vida? Ou tremerá, como muitos ao enfrentar um Maracanã lotado? A prévia ocorreu num evento de moda, no Rio de Janeiro. Vaias e gritos de "Mengo" contra o jogador, que ficou visivelmente desconfortável. Mais de 80 mil rubro-negros prometem uma festa inesquecível, com música nova - belíssima, por sinal - e provocações ao Fenômeno. Uma quarta-feira pra ficar na História do Brasil e do Mundo.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Neymar, historiadores e jornalistas


Eis um elemento comum aos que participam deste blog (http://www.meioazero.blogspot.com/) : somos todos historiadores, perebas, além de apaixonados por futebol. Depois de ler a recente entrevista do Neymar no Estadão, tive uma espécie de click, que atordoa a minha cabeça nos últimos dois dias: o que, nós, historiadores temos em comum com os jogadores de futebol? Em geral, pouca coisa, eles não são apaixonados por futebol, e, evidentemente, em geral, se não craques, sabem jogar bola. De toda a sorte apenas um sentimento é capaz de nos unir: o ódio comum aos jornalistas. Os historiadores, é verdade, odeiam os jornalistas, muito mais por uma questão de disputa pelo monopólio do saber escolástico, do que propriamente por uma questão justa e correta. Os jogadores, porém, tem o dever e o direito de odíá-los. Inventam mentiras, contam fofocas, são invasivos, conduzem entrevistas. Existe apenas uma palavra para descrever a entrevista do jovem Neymar ao Estadão, neste domingo: covarde. É, acima de tudo, uma entrevista covarde, de um jornalista extremamente arrogante, ciente de seu prestígio e status, com certa inveja de não ter o dom do Neymar, que massacra o jovem menino com perguntas mesquinhas, plenas do preconceito de classe média.

Neymar é retratado como um jovem politicamente alienado, sem educação, e crente em uma seita neopentecostal, coisas que, parecem, na entrevista, interdependentes. Perguntam a Neymar sobre carros importados, sobre mulheres, sobre políticos. Neymar responde o que 90 % dos meninos de 18 anos no Brasil, responderiam, ou seja, que gosta de carros caros e de mulheres bonitas, e que não se interessa por política. O problema, é claro, não é do Neymar, mas principalmente do Santos, clube em que o Neymar se encontra há alguns anos, desde os TREZE, pelo menos, que investiu ridiculamente em uma formação dentro de campo, ignorando a formação do cidadão Neymar. (não vale lembrar de Robinho que perguntou quem era Nílton Santos?) Thierry Henry tinha absoluta razão quando disse que os jogadores brasileiros eram bons porque não precisavam ir à escola. Complemento Henry: não vão à escola por que nem clubes nem governo estão interessados nisso. E, tomando isso como quadro, a entrevista do Neymar é um reflexo mais do que natural desta estrutura medíocre sobre a qual se assenta a formação de jogadores no futebol brasileiro.
Agora, qual a abordagem do jornalista? Neymar é um jovem alienado. E, bizarramente, há uma associação muito forçada entre a alienação política e a alienação religiosa. Uma simplificação quase forçada da tese marxiana presente nos Manuscritos: "A religião é o ópio do povo". Não acho forçoso pensar que tal entrevista tenha sido pensada a partir do caso do "abrigo" dos espíritas, quando Neymar (e outros) recusaram-se a entregar presentes a um orfanato ligado à religião espírita.

Essa entrevista, abre, na verdade, muito mais discussões para o que compreendemos sobre formação dos jogadores de futebol no Brasil do que especulações sobre a vida "mesquinha" do jovem craque santista. A entrevista é bastante conduzida e Neymar e, em retirada de um contexto de total relaxamento, o que pareceu ser a entrevista, soa de forma patética. Se percebermos isso nas entrelinhas, percebemos como há uma inocência muito maior do que ganância na frase: 'Quero uma Ferrari e um Porsche', como uma criança, dentro de uma loja de brinquedos, escolhe a Barbie, ao invés do Ken. O que fica, porém, como fim último, para o leitor apressado (90 % da população leitora dos jornais), é a manchete e o lead: "Neymar, estrela maior do Santos, é gastão. Mas dá 10% de tudo à igreja"

 
Absurdo. Alienação.

 
Bizarro que dentro da entrevista há todo um discurso-nativo extremamente elaborado do significado do dízimo que passa em absoluto despercebido pelo jornalista.
Deixarei de falar, leiam a entrevista:

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100426/not_imp542923,0.php

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Uma pequena amostra de que dinheiro não é tudo no futebol


Para meu amigo Gondim, por zombar do grandioso clube das Midlands.


Domingo. Villa Park. Clássico da cidade de Birminghan, uma das maiores rivalidades do futebol inglês, Birmingham City contra Aston Villa. O enjoado time do Birminghan City, muito bem armado em sua defesa, com o goleiro Joe Hart fazendo uma temporada quase-impecável, e com o escocês Barry Ferguson dominando o meio campo. Foi assim que, liderado pelo manager Alex Mc Leish, o modesto time da cidade conseguiu a honrosa 9a colocação, na frente de equipes muito melhores como o Fullham e o Blackburn, e vem complicando muito para os grandes, principalmente no Saint James Park. Não custa lembrar o empate com o United, ou mesmo com o Arsenal e a série invicta de 10 partidas, a maior da história do clube! Além disso a rival local parecia querer fazer de tudo para tirar do Villa os dois pontos preciosos, necessários e fundamentais, para que o o outro time da cidade ficasse fora da Uefa Champions League. Amarrava o jogo, Ferguson destacava-se no meio, Mc Fadden, veterano, se esforçava no ataque. Parecia que teríamos, mais uma vez, o resultado favorito de 10 entre 10 ingleses, o "goalest drawn" (o empate sem gols)

Eis que, nos derradeiros minutos de jogo, um pênalti salvador: gol de Millner (PFA young star of the year). Aston Villa com 64 pontos, um à frente do City, empatado com o Spurs, na quarta colocação. Faltando duas rodadas o Aston Villa vai com tudo para a conquista da vaga.

O Aston Villa, clube de grande tradição, da belíssima região das Midlands, localizado na cidade de Birmingham, é uma pequena amostra de que dinheiro não é tudo no futebol. Ainda. O campeonato inglês, indiscutivelmente o mais rico do mundo, é , paradoxalmente, o campeonato mais mal organizado do mundo, em termos financeiros. De forma alguma há o que a FIFA vem recentemente chamando de "Fair Play Financeiro", ou seja, gestão sustentável dos clubes de futebol. O Aston Villa, repito, clube da belíssima região das Midlands, localizado na cidade de Birmignham, é uma pequena amostra de que dinheiro não é tudo no futebol.

Segundo dados do jornal, "The Guardian", o Aston Villa é o único clube em toda a Premier League que não deve dinheiro. Do Chelsea ao Porstmouth, todos os clubes (exceção, claro, do Villa) estão no vermelho. Todos estão quase-quebrados (a dívida do United beira o bilhão de libras, do Liverpool beira o meio bilhão e por aí vai).


O leitor, então, poderia se perguntar se é possível um futebol sustentável e competitivo, sem as loucuras financeiras dos megalomaníacos de City, Chelsea e afins, e contra-argumentar que o time do Aston Villa é muito fraco, e de que para fazer futebol competitivo, muitas vezes, é preciso gastar "além da conta". Ora, em primeiro lugar, em defesa do futebol competitivo, o time do Wigan, do West Ham, do Porstmouth são muito mais fracos do que o do Villa, e isso é um fato, e todos estes clubes estão à beira da falência. Em contrapartida acabo de dizer que o Villa está um ponto à frente do Manchester City (viva!), clube que mais investiu em contratações na temporada passada, graças ao caminhão de dinheiro dos sheiks do Oriente Médio. Além disso, os (desgraçados) donos do City contrataram a peso de ouro o melhor jogador do Aston Villa na temporada passada, o volante Gareth Barry, que disse, ao deixar as Midlands, estar "desesperado para jogar futebol de nível internacional, principalmente, a Champions League". Apesar da perda do seu principal jogador, capitaneados pelo ótimo Brad Friedel, com jogadores notáveis de um quilate de um Ashley Young, ou Gabriel Aghbolahorn (tem que ir para Copa, falo logo!), o "mão de vaca" Villa sustenta-se na briga pela quarta colocação e faz campanha ligeiramente melhor do que o primo gastão, Manchester City. Há de destacar ainda qeu o Villa é um dos raros clubes da Premier League que tem uma política bastante interessante de privilegiar o torcedor, mantendo os preços relativamente baixos, para que todos tenham o "direito à torcida".

Semana que vem teremos um tira-teima. No City of Manchester, Villa e City irão se enfrentar. Os nortistas são, evidentemente, favoritos. A constelação do City conta com Tévez, Adebayor, Given, De Jong. O time de Midlands aposta suas fichas no conjunto e no excelente treinador Martin O'Neil. É o verdadeiro tira-teima entre o "bom, bonito e barato" ou o "gaste o quanto puder"...


Perdemos de 7 a 1, para o Chelsea, é verdade. Mas o Chelsea é o time mais rico do mundo (e o melhor time do mundo também). E contra tanto dinheiro assim, só resta chorar. Ou torcer para o United.

Mesmo se o Villa perder, há de se louvar a sua excelente campanha, ficando, entre os seis melhores times da EPL.

domingo, 25 de abril de 2010

O Povo Brasileiro contra Dunga!

Mais uma Copa se avizinha. Mais uma vez o Brasil desponta como um dos favoritos ao caneco. E mais uma vez o povo entra em rota de colisão com o técnico da seleção. Das Copas que eu lembro, sempre tivemos um imbróglio em relação a algum jogador que não faz parte dos planos do treinador, mas que a torcida brasileira gostaria de ver. Em 1994 (nas Eliminatórias desta Copa, ainda) Carlos Alberto Parreira se deu por vencido, convocou um endiabrado Romário, e trouxe a Copa com um futebol questionável, mas eficiente. E se Romário ficasse de fora? Em 1998, de novo Romário. Figurinha certa na seleção. O maior do mundo foi convocado, mas cortado. O povo não queria, o técnico, um velho lobo, não atendeu o clamor popular. E convocou um jogador de uma posição bem diferente da do Baixinho. Pois bem. A Copa não veio. Havia um tal de Zidane no meio do caminho. Se Romário tivesse ficado, poderia reeditar a dupla do Tetra com Bebeto na final 4 anos depois, poupando Ronaldo do jogo e das críticas. Em 2002, Romário mais uma vez. Aquele que os paulistas chamam de Scolari e eu insisto em dizer Felipão, não deu o braço a torcer. Bancou a não convocação do Baixo. E teve mais sorte que o velho lobo. Trouxe a Copa. Inspiradíssimas atuações de Rivaldo e Ronaldo. Brilhantes como nunca. Em 2006, Parreira era o técnico de novo. E talvez tenha sido o ano da exceção. O Brasil tinha um timaço: O Imperador da Penha, Ronaldo Fenômeno, Ronaldinho Gaúcho, Kaká, Zé Roberto, Roberto Carlos, Juninho...nossa, tantos craques que o povo não poderia pedir mais ninguém. Estavam todos lá. E deu no que deu. Havia a França, do mesmo Zidane (um pouco mais careca, na verdade) no meio do caminho, outra vez. Chegamos em 2010. Dunga, o capitão do Tetra, é o professor da vez. Ao longo desses 4 anos, convocou Afonsos Alves e Jôs da vida. Mas manteve um grupo fechado, coeso. Os intocáveis de Dunga. Júlio César, Robinho, Kaká, Elano...já tem o passaporte carimbado para África do Sul. Dunga, com esse grupo fechado, ganhou tudo o que disputou. Sacudiu a Argetina, eterna favorita ao título, e se classificou com antecedência. Venceu a Copa das Confederações, com direito a um sacode na Itália, atual campeão do mundo, naquela competição. Mas mesmo assim o povo acha que falta algo. Falta Neymar. Mas Dunga acha que não. Se trouxer a Copa, voltará cheio de razão, como Felipão em 2002. Mas, e se perder? Claro que, em caso de fracasso, não poderemos atribuir à não ida do menino da Vila à Copa. Seria leviano pensar ou sugerir que um garoto decidiria uma Copa do Mundo. Mas, porque não levar? Porque deixar de fora um talento desses? Ainda que seja pra fechar no coletivo. Ainda que seja pra dar experiência ao garoto (como Ronaldo em 94, como Kaká em 2002). Há desculpas, mas não há motivos pra deixar Neymar de fora dos 23 que vão tentar fazer o penta virar hexa.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Nota

"A diferença da final da Champions entre Chelsea e Manchester United era muito pequena, os times eram iguais. O que contou, no final de tudo, era que um time tinha História. O outro, não"
"Voce pode dizer o que voce quiser sobre Barcelona ou Real Madrid. Mas nenhum clube no mundo tem a História do Man United..."

Sir Bobby Charlton

Em breve, senhores, vou contar um pouco a deliciosa História do United para voces.

No treino do Barcelona

Estamos no início ano de 1982. Zico, Platini e Rummenigge são as estrelas-guias do futebol mundial. Todos, à exceção de Michel que estava em vias de se transferir para a Juventus, ainda atuavam em clubes nos seus respectivos países natais. Zico, no Flamengo, Rummenigge no Bayern de Munique e Platini, no Saint-Etienne. Quem era o melhor do mundo? Qual era a melhor seleção do mundo? Sabiam sobre Zico os ingleses do Liverpool, melhores da Europa, que no ano anterior haviam levado um 'sapeca-ia-iá' rubro-negro. Mas, no mundo que existe para além do saber dos especialistas, saberiam os alemães do Bayern, que não possuiam televisão a cabo, quem era Michel e, muito menos, quem era Zico? Era preciso esperar a Copa do Mundo para que os grandes se encontrassem.

Para o bem ou para o mal, sem dúvida, em 1982, é, provavelmente, a última Copa romântica. Foi, quase que certamente, a Copa em que as estrelas dos países, atuavam, propriamente, nos seus países. Logo na seqüência Rumenigge, Zico, e o próprio Platini, todos migraram para o El Dorado do final dos anos 1980, que foi o futebol italiano (hoje, em absoluta crise). Naqueles anos na terra da Bota, desfilaram Gullit, Maradona, Platini, Laudrup e tantos outros craques. O futebol italiano, e o mundo, já não sao mais os mesmos e hoje a terra prometida do futebol mundial parece ser uma Ilha a Oeste do Velho continente, com seu supersupercampeonato: a English Premier. Lá, Fabregas, Rooney, Robinho, Tevez, Ballack desfilam sua graça e talento dentro de campo (e na televisão) a cada final de semana. E a cada final de semana o mundo, via satélite, pode deliciar-se com Rooney, ou com Niño Torres, ou com o jogador favorito de cada um. Mas é na Europa Champions League que os "grandes se encontram". Os melhores e os maiores (não há dúvida disso) jogadores estão lá. E se encontram todo ano, em Chelsea X Inter, Barça X Man. Utd, Real Madrid X Bayern. Veja você que os cinco melhores jogadores do mundo (Kaká, Messi, Xavi, Iniesta e Cristiano Ronaldo) em atividade jogam entre si, por pelo menos, duas vezes por temporada. Ou diariamente, no treino do Barcelona
Por outro lado, a Copa já não tem o glamour de outrora. É uma competição inchada. Quase o Campeonato Carioca. Veja você o Brasil jogará com Coréia do Norte; Itália com Eslováquia e Nova Zelândia; e por aí vai... Além do que, os jogadores principais chegam à Copa estourados, depois da fatigante temporada no futebol europeu, se não é, por exemplo, o caso de Zinedine Zidane em 2002, ou de Ronaldinho Gaúcho em 2006. O pouco tempo hábil de preparação para Copa acaba proporcionando isso. Antigamente, no ano de 1982, Zico precisava ir bem na Copa para provar seu valor. Assim também Rummenigge e Platini. E jogar bem não significa apenas vencer. É verdade que muitos grandes não ganharam uma Copa do Mundo, mas jogaram bem. Stoichkov, Cruyff, Lineker, Puskas, Gazza. Ganhar não é um elemento diacrítico de forma alguma. Era preciso jogar bem e ponto. A Copa era o momento raro no futebol mundial em que "os grandes se encontravam"; em que os melhores jogadores, em suas seleções, tinham a oportunidade de estar cara-a-cara. E eles tinham tempo para treinar. Treinavam muito. A Holanda, máquina de 1974, treinou quase que incessantemente para a Copa durante três meses. Hoje a Copa é uma competição inchada, espremida no calendário europeu. O parco tempo de preparação para Copa permite que as equipes desenvolvam um fraco entrosamento e tempo inábil de recuperaçao física de atletas lesionados. Então, será ainda verdadeira a máxima de que "Para ser uma lenda no futebol mundial, é preciso jogar bem uma Copa?" Amigos, lamento informar este aforisma atualmente está absolutamente demolido. Para jogar bem no futebol mundial e se tornar uma verdadeira lenda do futebol, é preciso jogar bem o treino do Barcelona. Reservas contra titulares.
 
 
Por Luiz Guilherme Burlamaqui, originalmente escrito para http://www.saladopano.blogspot.com/

São Januário, mais que um caldeirão!




Hoje, O estádio São Januário completa 83 anos. Fundado em 21 de abril de 1927, é símbolo de orgulho para torcida vascaína, não só perante seus rivais cariocas, mas para qualquer clube em escala mundial.

O orgulho se deve não só porque foi considerado o primeiro estádio brasileiro de grandes proporções, sendo até a fundação do Maracanã em 1950, o maior estádio da América do Sul, o que originou a alcunha de "Gigante da Colina". Também não apenas por ter sido palco de inúmeras decisões, títulos e glórias esportivas, como a Copa do Mundo de 1950 e a final da Libertadores de 1998, por exemplo. Não se restringe ao fato de ter sido o "habitat" de grandes craques do futebol brasileiro como Barbosa, Bellini, Ademir, Roberto Dinamite, Edmundo e Romário. Ou então, só porque foi onde ocorreram eventos importantes da história brasileira como o Primeiro Congresso Nacional de Educação, o anúncio da Consolidação das Leis de Trabalho (CLT) e alguns desfiles das escolas de samba. Mas sim por tudo o que ele representa.

Muito mais que um caldeirão - quando o Vasco enfrenta seus oponentes em campo -, mais que patrimônio nacional - por sua fachada tombada pelo IPHAN -, mais que um dos sete melhores estádio do mundo para se assistir uma partida de futebol - prêmio conquistado em 2002 -, São Januário é a parte mais importante da história do Clube de Regatas Vasco da Gama e um dos principais marcos da história social do futebol.

O Vasco da Gama e seus torcedores podem ter a honra de dizer que o clube proporcionou uma ruptura nos valores discriminatórios e racistas impregnados no futebol carioca. Representando a aristocracia branca e rica, os clubes da zona sul Fluminense, Flamengo e Botafogo, se diziam no direito de definir a prática do futebol como exclusiva de "amadores", ou seja, só podiam defender clubes futebolísticos aqueles que dispunham de renda e tempo suficiente para praticar o esporte apenas por lazer.

Iniciando sua participação no futebol em 1916, o C.R. Vasco da Gama, montou um time composto por negros, mulatos e brancos pobres que tinham habilidade e potencial."Para mantê-los no time, comerciantes portugueses os registraram como empregados em seus estabelecimentos. Era a maneira de burlar a restrição de um amadorismo com os dias contados. Registros comprovam que o pagamento a jogadores já era prática corrente em 1915"(NEGREIROS, Gilberto. Revista Vasco dez/2009). Ali já começava uma separação dos valores preconceituosos e de raça em função do zelo ao futebol arte, à técnica, à competição, ao esporte. Assim, o time chegou em seis anos á primeira divisão da Liga do Rio de Janeiro.

Quando disputou seu primeiro campeonato carioca em 1923, o Vasco não havia perdido para nenhuma equipe e já havia derrotado Fluminense, Botafogo e América. Porém, no jogo contra o Flamengo, realizado no estádio granfino das Laranjeiras, os torcedores (brancos) dos outros clubes derrotados, inconformados, se uniram para torcer contra os "camisas pretas"(se Hitler fosse brasileiro, aposto que estaria nesse jogo). O resultado, por ironia do recente destino, foi um jogo disputado em que o Vasco perdeu, 3 a 2, com um gol legítimo anulado pelo juiz que viria a ser o presidente do Botafogo no ano seguinte. Mas, mesmo assim, o Vasco ganhou o campeonato.

Os clubes aristocráticos da zona sul, com medo de uma nova derrota, se recusaram a participar do torneio seguinte, caso o Vasco inscrevesse 12 de seus jogadores, todos eles negros e mulatos, o que foi prontamente negado pelo presidente José Augusto Prestes. Depois, fundaram uma liga própria a qual só podiam participar clubes que possuíam estádio. Daí surge a história de São Januário, que foi construído a partir de uma "vaquinha" dos humildes moradores da zona norte da cidade, de comerciantes portugueses e de admiradores do time.

Essa história representa a tradição do estádio vascaína. Traduz o sentimento que deve ser interiorizado em todo vascaíno que ainda duvida da escolha de seu time em razão de outros. Garanto que muitos que escolhessem como critério para torcer por um clube o quesito TRADIÇÃO e HONRA, teriam o Vasco da Gama em seu peito, e seria, sem dúvida, a maior torcida do mundo. Mas o Vasco não precisa de números. Tradição e honra, não são feita de números.

Para finalizar, parabéns a São Januário e a tudo o que significa para a História, para o esporte e para os valores humanos, que estão muito acima de jogadores, dirigentes ou fatos isolados.



Fabricio Balmant

segunda-feira, 19 de abril de 2010

A flor do desejo e do maracujá!

Sábado, 45 do segundo tempo, Old Trafford. "Trouble for United". O empate sem gols contra o maior rival àquela altura afastava todas as possibilidade de título. O Chelsea jogaria mais tarde, contra o Spurs. Um clássico londrino, é verdade, mas com muito menos rivalidade do que City X United. Os Spurs pareciam um que não obteriam uma vitória contra os Blues, que vinham embalados, de vento em popa na primeira colocação. Por sua vez, os torcedores do City estavam mais que satisfeitos com o resultado. Além de afastar todas as possibilidades de título do United, mantinham-se fortes na briga pela quarta vaga na Uefa Champions League, com a vantagem do confronto de direto na penúltima rodada, no City of Manchester. Parecia uma tarde de futebol de sábado perfeita para os que, no começo do jogo, ironizavam a faixa rebelde dos torcedores do United ('Love United; Hate Glazers'), estapando por todo o estágio a deliciosa faixa: 'Love Glazers, Hate United'. Mas não seria. Paul Scholes não iria deixar que isso acontece dessa forma. Após receber um cruzamento de Valencia, um gol, de cabeça. Perfeito. A explosão em todo o estágio. Neville corre para o abraço e...um beijo em Paul Scholes! Scholes que durante toda a temporada marcara apenas dois gols, e fez partidas bem abaixo da crítica (contra o Bayern, em Old Trafford), não deixaria que o seu time, o SEU time ficasse nesta situação. Afinal, Scholes está há mais de dez anos no United, fez gols magníficos e decisivos (como não lembrar daquele espetacular há dois anos contra o Barcelona!), uma verdadeira lenda do United. Assim seus companheiros de time, Gary Neville e Ryan Giggs. E com eles convive intesamente há tantos e tanos anos, levando glórias para o "Teatro dos Sonhos..." Não teria grandes dificuldades em imaginar que são muito amigos e que confiam intensamente um no outro. Cresceram todos, afinal, nas categorias de base do United e são amigos de infância. Neville que durante toda a sua carreira não foi nada além de um lateral-direito razoável, com funções muito mais do que defensivas do que ofensivas, subindo raras vezes ao ataque, sempre foi um verdadeiro líder em campo e hoje é um dos maiores ídolos de todos os tempos do United, ao lado de verdadeiros gênios como Charlton, Best, Law, Cantona... Ele dedicou toda a sua vida ao United, e, apesar da sempre limitada técnica, se esforçou como poucos para estar naquele que é o maior clube de futebol do mundo. Acima de tudo, AMA o Manchester United. E, se é verdade que o futebol é um sistema totêmico, que opõe clãs e tribos em pares antitéticos, amar o United significa, sobretudo, ODIAR o City. E Neville depois de convivência tão intensa de anos com Giggs e Scholes, passou a amá-los, por perceberem, que, assim como ele são parte do United (do "Nós"), contra eles (os "outros"), do City. Há, portanto, uma declaração de amor mais bonita e profunda do que um beijo na boca mútuo? Não, amigos, não creio. A sociedade contemporânea interdita o toque entre individuos do mesmo sexo, especialmente do masculino. Basta pensar que raras vezes abraçamos nossos amigos homens, em contraposição às mulheres, que se acariciam, se tocam, se abraçam quase sempre. O futebol é uma exceção à regra, quase que como, especialmente, neste sentido, uma válvula de escape às tentações do instinto homossexual, ambiente em que o abraço, ao menos, é liberado: "Free Hugs..." O beijo de Scholes em Neville, ou vice-versa, nada é além de uma declaração de amor ao próprio clube, nada além disso, e do que o limite máximo proporcionado pela experiência futebolística. Paradoxalmente, o homossexualismo é muito condenado no meio dos jogadores. Depois do Exército, o futebol é o lugar aonde é mais raro encontrar algum sujeito homossexual. Não nos lembramos de Jonh Barnes, o negro e homossexual, que, depois de atingir a glória pelo Forest e pela Seleção Inglesa, se suicidou tragicamente? Ou ainda o zagueiro Sol Campbell que é acusado- talvez, injustamente- de homossexualismo por ter declarado que não gosta de mulheres, porque "tem medo de que elas só estejam interessadas no seu dinheiro"? O beijo de Scholes foi apenas o limite extremo deste contato físico reprimido em partes da sociedade, manifesto no futebol. Nenhuma mostra de homossexualismo por parte de cada um, apenas, no limite, uma declaração de amor ao futebol, ao United, e à propria geração a que pertencem que conquistou tudo o que pode no futebol. E, claro, de ódio ao City. Neste contexto, meus amigos, eu também quero beijar.

sábado, 17 de abril de 2010

Há praticamente uma semana, boa parte dos aficcionados por Futebol - assim, com letra maiúscula, pois considero o esporte uma instituição no Brasil - ingressou em uma maratona que se repete de 4 em 4 anos. Falo da coleção do álbum da Copa do Mundo, que mobiliza muita gente em busca das figurinhas dos ídolos da bola, numa correria que envolve a compra de muitos pacotes por dia, trocas frequentes com amigos e até desconhecidos, enfim, tudo para que se completem as seleções que estarão no mundial daqui a pouco mais de 1 mês. Mas o que serve de mote para isso? Sinceramente, não sei explicar. É curioso que essa mobilização ocorra, uma vez que ajuda a registrar a o maior evento esportivo no mundo para a História e que servirá para que nossos filhos e netos acompanhem e possam perguntar, nunca se sabe por que as figurinhas do Japão são menores que as outras, ou até mesmo o motivo de Ronaldinho Gaúcho estar no álbum já que dificilmente estará na copa daqui ha pouco tempo - mas pai, por que esse cabeludo está no álbum se o Brasil foi hexa sem ele? - Não sei, filho, talvez porque muita gente quisesse que ele fosse convocado, mas o Dunga perseverou e não o levou. Além do mais, ele era muito firuleiro! - Afirmo, ainda, que muitos se lembrarão eternamente a primeira seleção completa, a primeira figurinha, o primeiro escudo... Uma outra pergunta que se pode fazer, é o motivo dessa avidez pela compra dos pacotinhos se, na verdade, é muito mais fácil mandar um email pra Panini, editora do álbum, com o número das que são necessárias para que se complete o álbum. Isso, é fácil de se explicar. Digo, sem medo de errar, que a maior graça das figurinhas é a expectativa que move o ser humano atrás do desconhecido e do mistério que está por tras daquele envelopinho laranja com a promessa de felicidade, ainda que fulgaz, de tirarmos o Cristiano Ronaldo, o Messi, ou até, com sorte, uma figurinha brilhante! Mas lembrem-se, figurinha brilhante só se troca por brilhante. Aliás, isso me lembra outro fator fundamental: a integração e a criação de laços sociais e afetivos que são gerados através de uma simples troca! Principalmente se você tem o azar de tirar um monte de repetidas, como o meu caso. Azar? Ou não! Talvez seja uma sorte se inserir nesse círculo de trocas, uma espécie de "capital simbólico" ou, melhor dizendo, "pacotinhos simbólicos" Esse frenesi é, sem dúvida, sensacional. Ainda faltam pouco mais de duzentas e noventa figurinhas, inúmeras incursões ao jornaleiro - outro vício, o de passar em frente a uma banca e tentar se segurar, muitas vezes sem sucesso - até que o ciclo se acabe, chegue o dia 11 de junho e acabe esse ciclo. Até que comece tudo de novo, em 2014, dessa vez com Neymar, Coutinho, dentre outros. Aliás, alguém tem a número 328 repetida?

Para Joel, a imortalidade

Óculos deitados sob um generoso nariz, uma barriga que aperta qualquer camisa e que serve de apoio a uma prancheta que não cansa de ser rabiscada, cabelos cuidadosamente pintados com Grecin 5, uma língua presa que cismou de tentar falar inglês e produziu pérolas dignas de you tube e um jeito inquieto e esbaforido á beira do campo cheio de caras e bocas. Esta descrição que cairia como uma luva para um personagem de um bom filme de comédia, nos leva a Joel Santana, sujeito de mais carne do que osso, que por tudo que descrevi acima e um pouco mais, torna-se um personagem, não daqueles de roteiros hollywoodianos, mas do futebol brasileiro, de sua história.

Mas será só pelo jeito caricato? definitivamente, não. Joel tem competência. Apesar de apenas um título nacional e um internacional em seu currículo (mesmo estes, bastante discutíveis), já fez bons trabalhos em brasileiros (Fluminense, em 1995, Flamengo, em 2007) e ganhou tantos cariocas ao ponto de estar a dois de alcançar Flávio Costa, treinador do Brasil na Copa de 50, que possui oito campeonatos. Suas mais recentes façanhas foram ganhar a Taça Guanabara e chegar a Final da Taça Rio com o antes desacreditado Botafogo, podendo assim, neste domingo, colocar mais um titulo na sua conta e ficar a um do recorde.

Porém, o reconhecimento da competência do ‘papai’ Joel não me faz admirar a sua concepção de futebol, que se reflete no estilo de jogo dos seus times. Prefiro meias a volantes, a inteligência predominando sob a força. Gosto de ver um time com posse de bola e sabendo o que fazer com ela. Contra-ataque, para mim, só como possibilidade, não como regra. Sei também que com este Botafogo que esta aí não há de se fazer mais do que o feijão com arroz dos nossos tempos (que isso fique bem claro, pois, na década de 60, o feijão com arroz tinha quatro atacantes e dois no meio). Mesmo assim, cabe a pergunta: será que Joel e esse Botafogo não foram feitos uma para o outro, que se melhorar acaba estragando?

Incompatibilidades á parte, o “mago da prancheta” é mais um desses imortais que a história do futebol constantemente cria. Não falo os imortais-gênios da bola. Mas de uma outra categoria (ainda carente de uma definição mais adequada), de seres humanos, peculiares, por isso, inesquecíveis. Como contar a história do futebol de hoje num futuro talvez longínquo e esquecer de Joel Santana? que os registros não se percam! que nossos descendentes reservem a Joel, ao menos, uma nota de rodapé.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Os vira-latas com narinas de cadáver.

"O Brasil só perde a Copa para ele mesmo", assim disse Dunga em uma entrevista coletiva recentemente. Não, amigos, não é verdade. Se todos jogarem aquilo que sabem, amigos, o Brasil perde a Copa para, pelo menos, três times: Inglaterra, Espanha e Argentina. Acontece que em uma Copa do Mundo nem todos jogam o que sabem (Ronaldinho, em 2006; Maradona, em 1982) e uns poucos jogam até o que não sabem (Kléberson, 2002 e Squillaci, em 1990), e, por isso, apenas, por isso, podemos ser campeões. Cresci, meus amigos, achando que o futebol brasileiro era o melhor do mundo. Cresci achando que poderíamos ter ganho todas as Copas (a exceção de 1930, 1934, 1954 e 1974) não fosse a obra do azar e da sorte. Cresci achando que tínhamos os cinco melhores jogadores de todos os tempos: Pelé, Zizinho, Garrincha, Zico e Romário. Cresci achando que nada poderia nos parar, se quiséssemos vencer. A ginga e o jogo, diria Armando Nogueira, estão no "sangue do brasileiro", e isso faz com que os jogadores aqui nascidos sejam melhores, é claro. Nos esquecemos do seguinte: que o futebol é o esporte mais praticado do mundo. E, todos em qualquer momento, podem produzir jogadores magnânimos, se boa a safra. Maradona não nasceu no Brasil. Eusébio não nasceu no Brasil. Kopa, Platini, Zidane, Hagi, Stoichkov, Cruijff, Beckenbauer, Bobby Charlton. Ninguém, ninguém nasceu no Brasil. Mas estes, é verdade, ainda tive a sorte de compreender a sua importância, porque desde cedo tive curiosidade para conhecer a "História das Copas do Mundo". É verdade que, para nós, brasileiros, só existia a Copa do Mundo e durante alguns anos, apesar de ler absurdamente sobre futebol, fiquei sem conhecer as proezas de um George Best ou de um Sir Stanley Matthews por anos a fio...E eles foram grandes em seu tempo, Garrincha, quando surgiu, era chamado de Stanley Matthews 'brasileiro', pelos europeus. Tudo isso, tudo isso, pela arrogância nacional. Arrogância que não percebe como alguém pode achar Maradona melhor do que Pelé. Ou Beckenbauer melhor do que Garrincha. Eu não acho, digo logo. Garrincha e Pelé pertencem a um outro país (que, repito, não é o Brasil!). Nasceram no planeta dos grandes, planeta que viu surgir um Picasso, um Mozart, um Mandela, e toda a sorte de gênios. De qualquer forma, compreendo e respeito essa opinião, afinal Maradona fez o possível e o impossível no futebol. E Beckenbauer foi um tremendo jogador. Hoje, no entanto, sofremos de um duplo problema: a arrogância à brasileira, que perdura, como na frase de Dunga, e a inferioridade latente em relação ao futebol europeu. Lá, indiscutivelmente, se joga o melhor futebol. E em terras brasílicas: o que se joga? Quão o futebol brasileiro é pior do que o futebol europeu? Quão é diferente? Jogar bem aqui significa estar preparado para o sucesso internacional? Não tenho respostas imediatas a esta perguntas. Digo que tudo me parece ser muito mais uma questão de "estilos de jogar" do que propriamente desigualdade e diferenciação técnica. (Devo escrever sobre isso em breve)Cabe concluir, porém, que a arrogância brasileira ruiu em meio a onipotência cristalina do futebol europeu: a geração do futebol europeu, que assiste mais Barça e Man. United do que o próprio clube, sofre constantemente com o "complexo de vira-latas" do século XXI.É incapaz de admirar jogadores de raro talento, como Neymar ou mesmo Ganso, bufando: "Na Europa, ele não faz isso...". Isso tudo afeta, obviamente, a maior preocupação de cada brasileiro, em especial, em ano de Copa do Mundo: o selecionado nacional de futebol, a "Seleção". De um lado, a arrogância à brasileira se mantêm firme e forte, acaba defendendo teses absurdas do tipo: Luís Fabiano é o melhor atacante do mundo, Kaká é melhor do que Cristiano Ronaldo, Torres e Villa só funcionan no Playstation, etc. Do outro lado, os que sofrem da "síndrome do vira-latas" do séulo XXI propugnam e se mantem firme por iguais bizarrias: Neymar é incapaz de jogar na Seleção Brasileira, jamais atuou na Europa! Torees e Villa são infinitamente superiores e melhores do que Luís Fabiano e Robinho, que jamais tiveram o mesmo sucesso na Europa, e assim sucessivamente. Creio que a sintese paradoxal e absurda de tudo isso é uma mescla de dois caricaturas rodriguianas que expressam um pouco o momento conturbado que vivemos em nosso futebol. A grã-fina de narinas de cadáver entendia lhufas de futebol, e era daquelas que, ao chegar no estádio, indagava acerca da existência filosófica e epistemológica do objeto esférico que ia de um lado a outro: "Quem é a bola?". Era um personagem símbolo da aristocracia em geral, que, normalmente, pode perder toda a sorte de capital econômico, mas se preocupa, quase que exclusivamente, em manter o seu status, razão do existir. Há alguns anos, o futebol brasileiro está falido. Não tem mais capital econômico para perder. O único capital simbólico em que podemos nos agarrar é o relativo sucesso dos jogadores brasileiros no exterior. A superioridade do jogador brasileiro ante o jogador europeu é a pedra angular da arrogância brasileira. Por outro lado, a inferioridade do futebol brasileiro em relação ao futebol europeu é o principal razão de ser do "novo complexo de vira-latas". Se formos brasileiros ao limite e quisermos fazer uma síntese macunaímiana, teremos a versão clarividente de um "vira-latas com narinas de cádaver". Eis o que perturba todo o brasileiro no século XXI.