sábado, 17 de abril de 2010

Para Joel, a imortalidade

Óculos deitados sob um generoso nariz, uma barriga que aperta qualquer camisa e que serve de apoio a uma prancheta que não cansa de ser rabiscada, cabelos cuidadosamente pintados com Grecin 5, uma língua presa que cismou de tentar falar inglês e produziu pérolas dignas de you tube e um jeito inquieto e esbaforido á beira do campo cheio de caras e bocas. Esta descrição que cairia como uma luva para um personagem de um bom filme de comédia, nos leva a Joel Santana, sujeito de mais carne do que osso, que por tudo que descrevi acima e um pouco mais, torna-se um personagem, não daqueles de roteiros hollywoodianos, mas do futebol brasileiro, de sua história.

Mas será só pelo jeito caricato? definitivamente, não. Joel tem competência. Apesar de apenas um título nacional e um internacional em seu currículo (mesmo estes, bastante discutíveis), já fez bons trabalhos em brasileiros (Fluminense, em 1995, Flamengo, em 2007) e ganhou tantos cariocas ao ponto de estar a dois de alcançar Flávio Costa, treinador do Brasil na Copa de 50, que possui oito campeonatos. Suas mais recentes façanhas foram ganhar a Taça Guanabara e chegar a Final da Taça Rio com o antes desacreditado Botafogo, podendo assim, neste domingo, colocar mais um titulo na sua conta e ficar a um do recorde.

Porém, o reconhecimento da competência do ‘papai’ Joel não me faz admirar a sua concepção de futebol, que se reflete no estilo de jogo dos seus times. Prefiro meias a volantes, a inteligência predominando sob a força. Gosto de ver um time com posse de bola e sabendo o que fazer com ela. Contra-ataque, para mim, só como possibilidade, não como regra. Sei também que com este Botafogo que esta aí não há de se fazer mais do que o feijão com arroz dos nossos tempos (que isso fique bem claro, pois, na década de 60, o feijão com arroz tinha quatro atacantes e dois no meio). Mesmo assim, cabe a pergunta: será que Joel e esse Botafogo não foram feitos uma para o outro, que se melhorar acaba estragando?

Incompatibilidades á parte, o “mago da prancheta” é mais um desses imortais que a história do futebol constantemente cria. Não falo os imortais-gênios da bola. Mas de uma outra categoria (ainda carente de uma definição mais adequada), de seres humanos, peculiares, por isso, inesquecíveis. Como contar a história do futebol de hoje num futuro talvez longínquo e esquecer de Joel Santana? que os registros não se percam! que nossos descendentes reservem a Joel, ao menos, uma nota de rodapé.

2 comentários:

  1. Grande post de excelente escrita, amigo Gondim. Vou colaborar a partir de hoje com o blog.

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  2. Acho que a estrela do Joel brilhou forte passando energia a triste, apagada e solitária estrela do Botafogo. Falta pro Pet aos 43 que bate na barreira e penalti perdido do Imperador são ingredientes fortes ao brilho da estrela do "mago da prancheta". Que o Fla reine mais 21 anos!

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