quinta-feira, 6 de maio de 2010

Deu vontade de chorar

Não sou sensível às tragédias ou as conquistas da história: dificilmente me vejo lamentando um fato pregresso, ou, menos ainda, celebrando um acontecimento que passou. Claro, ao estudar sobre o genocídio judaico, ou a redução de homens à coisas, na escravidão moderna, fico triste porque me dou conta que o ser humano somos capazes de barbaridades de tal monta. Mas nunca me peguei chorando refletindo sobre o fato de que milhões pessoas morreram numa camara de gás.
Há mais: menos do que me importar com o passado, acho que nunca desejei desejar o sonho de qualquer historiador: construir uma máquina do tempo e migrar para algum acontecimento espetacular...Tudo isso sempre me pareceu absolutamente ridiculo.
Jamais quis estar na Revolução Francesa, na Revolução Rússia, na Idade Média (seja lá o que de importante possa ter acontecido nesta época), na abolição da escravidão, na Queda do Império Romano, na Grécia antiga para poder (ora viva!) conversar com Sócrates. Todas estas coisas, para mim, soam como patéticas...

Foi quando hoje, assitindo hoje na ESPN um documentário sobre Rivellino (Da Série: Os Cinquenta maiores jogadores de todos os tempos), me vi, ao término do documentário, em lágrimas. Não havia motivos para chorar, o documentário era alegre, tudo aquilo já havia se passado, "é apenas futebol", pensava. Mas as lágrimas escorriam, uma a uma, descendo pela face. Era emoção. Felicidade e tristeza, ao mesmo tempo. Felicidade porque pude perceber do que a humanidade é capaz, da arte em estado bruto. Tristeza, por poder saber que isso existiu, mas apenas saber, não ter vivido. Deu vontade de chorar. E chorei.

Vendo aquela Seleção, percebi que estava diante de uma linda obra de arte, de uma conquista monumental da História. E pensei em todos aqueles jogos fantásticos que ocorreram na Copa de 70. Brasil X Inglaterra. E naquele gol incrível de Carlos Alberto. Espirito da equipe, era o triunfo do potencial humano em um só gol, comparável às grandes obras de um Mozart, de um Picasso, de um Rembrandt! Neste instante, pela primeira vez em minha carreira (curta, é verdade) de historiador desejei poder construir minha própria máquina do tempo e partir rumo àquela final, Brasil X Itália, sem saber o que iria acontecer... E, sentir, no fundo da minha alma, estar diante de um acontecimento único na história da humanidade. Que se explodam as Revoluções Francesas. Não há na história da humanidade lugar melhor para estar do que na Copa de 1970. Final: Brasil X Itália.

PS: Esqueçam o que escrevi. Abobrinhas sobre Ballack, elogios a escoceses, asneiras falando de etnocentrismo, estupidezes sobre o futebol inglês. Não houve, não haverá, não pode haver Seleção Brasileira como a de 1970. Os alemães desengonçados tentram em vão nos vencer, os catenaccios italianos morreram inúteis nas praias, a catimba porteña (argentina e uruguai) foi inócua, os ingleses perceberam, enfim, que haviamos aperfeiçoado muito o que eles se vangloriavam ter criado. Pelé, Tostão, Rivellino, Carlos Alberto, Jairzinho...

Aquilo não era futebol; era arte, plena de transcendência, carregada com imanência...

Um comentário:

  1. Lindo texto.
    Ainda bem que há video e tecnologia disponível para todos que não puderam viver aquilo que você chama de arte e que eu concordo plenamente, possam assistir...
    Mas lembre-se de uma coisa, o melhor lugar do mundo para viver é aqui e agora.
    Malu

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