segunda-feira, 7 de junho de 2010

Belos e Malditos – A Arte que ninguém vê

Neste primeiro semestre de 2010 temos assistido aquele que é apontado por especialistas como o melhor time que já viram entrar nos gramados brasileiros. Estamos falando, é claro, do time do Santos Futebol Clube, de Neymar, Ganso, Robinho e Cia. Os meninos da Vila Belmiro vem conquistando corações e mentes no mundo do futebol. Henry, o carrasco de 2006, disse acompanhar o Peixe e se queda encantado com o talento de Neymar. Adílson, jovem e promissor volante do Grêmio, declarou após a primeira partida válida pela semifinal da Copa do Brasil 2010, no Olímpico de Porto Alegre: “O Ganso é um fenômeno do meio campo.”.

De fato, o Santos voa em campo. O Santos encanta. Só Dunga não rendeu ao talento dos meninos. Mas uma coisa me incomoda, e me incomoda muito no time do Santos. Não são as brincadeiras, as danças nas comemorações dos gols, os dribles debochados, ou as palavras de Neymar sempre que faz um gol – ele berra aos quatro cantos “EU SOU FODA”. Menino ainda, precisa aprender algumas coisas. O que me incomoda, na verdade, pouco tem a ver com o Santos e com os meninos em si. É como o Santos e os meninos são tratados pela imprensa e pelos torcedores. Todos torcem pro Santos vencer, porque o Santos joga futebol. Esse é o argumento: o Santos joga futebol. Há uma supervalorização do futebol vistoso, técnico, como isso fosse genuinamente brasileiro.

Pois bem. Se o Santos joga futebol, o que joga a Internazionale de Milão? O que joga o Botafogo de Joel Santana? O que jogava o São Paulo tri-campeão brasileiro? Será mesmo que futebol é só o Santos que sabe jogar? Creio que não, caros amigos. Futebol não é aquilo. Futebol é também aquilo. Não estou aqui defendendo a tese de que o gol é um mero detalhe. Não é isso. Mas não acho que o futebol seja, necessariamente, a incessante busca pelo gol. Às vezes, evitar tomar um gol é mais importante que fazê-lo. Que caiam as pedras sobre mim, mas eu acho, que muitas vezes, a defesa é o melhor ataque.

Eu mesmo já critiquei, e muito, o Botafogo de Joel. Chamei de burocrático, de futebol feio e desmerecedor de glórias. Estive errado e não sabia. A arte não é só o lençol, há arte também naquele carrinho bem dado. O melhor exemplo é a semifinal da Liga dos Campeões entre Barcelona e Internazionale. Aos catalães só a vitória interessava, e partiram pra cima em Camp Nou. Aos italianos, o 0x0 era goleada. E o que vimos foi uma arte. Inteligência tática incrível. Com um a menos, a Inter parecia ter dois a mais. Marcava forte, sem dar espaço nenhum aos lampejos de talento de Lionel Messi. Trocando em miúdos, jogou a exata em antítese do Santos. Mas foi um espetáculo na mesma proporção.

Por fim, só queria dizer que o Futebol é mais do que o Santos joga. Ofensivamente, é o melhor time que vi jogar. Não tenho dúvidas disso. Mas o futebol não é só ofensivo. Jogar pelo resultado, aquele 1 x 0 chorado, também pode ser uma arte, desde que seja bem feito. E jogar bem não é só meter gol. Se assim fosse, Júlio César jamais poderia ser o grande jogador da Seleção Brasileira. E ele hoje o é.

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