quarta-feira, 5 de maio de 2010

O lugar de Michael Ballack na história do futebol

Coluna: Grandes craques

"Eis que temos a pior Alemanha de todos os tempos se preparando para uma Copa do Mundo". Era isso que eu estava habituado a ouvir, pelo menos de grande parte da imprensa brasileira, antes do início da Copa de 2002. Havia uma espécie de consenso sobre o fato de que a Alemanha era um time patético, que, com dificuldade, avançaria às fases finais. Nas últimas duas Copas, a celebrada geração de Klinsmann não havia ido além das quartas-de-final, sofrendo de eliminações vexatórias, em 1998, para a Croácia, de Davor Suker, Prosinecki e Boban e, em 1994, para a Bulgária do carequinha Letchkov e de Stoichkov. Nesse ínterim, apesar de um título europeu em 1996, a lembrança mais recente era a eliminação na primeira fase(em último lugar!) na Euro 2000. A má campanha nas eliminatórias aliada, que culminou com um derota vexaminosa no jogo contra a Inglaterra, em Berlin, por 5 a 1, diziam muito sobre aquela seleção alemã. Mais do que isso, a nula experiência do técnico Rudi Völler era um componente de dúvida a mais sobre o destino do selecionado alemão. Verdade que o Bayer Leverkusen e o Bayern de Munique tenham alcançado alguns bons resultados nos torneios europeus, mas eles contavam com jogadores estrangeiros, como Lúcio e Lizarazu, e ficava difícil saber se a força destes clubes se refletiria na Seleção Alemã. Entretanto, havia, num destes times, um jovem, então com 24 anos, de grande potencial. A final da Champions daquele ano, mais conhecida como a final do "gol de Zinedine Zidane", ofuscou a existência de um adversário, o Bayern Leverkusen, e de seu principal jogador: Michael Ballack.
Em 2002, com a indispensável ajuda de Oliver Kahn e de Miroslav Klose, um Mr. World Cup, Michael Ballack fez uma Copa exuberante. Contra os Estados-Unidos, nas quartas-de-final, exibiu um futebol de alta qualidade, de nível internacional. E contra a Coréia do Sul, anfitriã, foi simplesmente espetacular. Na semi-final da Copa de 1990, Alemanha contra Inglaterra, num dos episódios mais marcantes da estória das Copas, Paul Gascoigne, ao receber um cartão amarelo, desatou a chorar. Aquele cartão significa que Gazza estaria fora de uma possível final e tudo aquilo foi demais para o jovem jogador inglês. O choro, quase como uma criança, parecia ser a única opção. Visivelmente desistabilizado, Gazza, embora tenha sensibilizado o mundo, não conseguiu levar a sua Inglaterra ao triunfo ante a Alemanha de Matthaus. Doze anos depois, porém, o principal jogador alemão, Ballack sofreria do mesmo infortúnio: o cartão amarelo aplicado pelo árbitro suíço Urs Meier significava a sua ausência da final. O jogo ainda estava empatado sem gols. E, se Ballack não retornasse rapidamente ao jogo, sua Alemanha estaria fora  da final contra o Brasil. Mas Ballack não só retornou ao jogo, frio como um bom alemão, como ainda marcou o gol da vitória. Alemanha 1 x 0 Coréia do Sul, gol de Ballack.
Na final, sua ausência representou muito para o Brasil. O Brasil dominou o meio-campo com facilidade e acabou vencendo o jogo por 2 x 0. Mas, certamente, a pergunta "E se Michael Ballack estivesse em campo?", continuará ecoando por muito tempo na cabeça de brasileiros e alemães.

Mas a geração de Ballack ainda conseguiu fazer muito mais por seus companheiros e por sua seleção. Na Copa da Alemanha, uma semi-final, com uma eliminação absolutamente injusta na semi-final, contra a Itália. No jogo mais espetacular daquela Copa, a Itália, comandada pelos estupendos Fábio Grosso, Francesco Totti, Andrea Pirlo, venceu a Alemanha numa prorrogação soberba. E na Euro 2008, novamente, a superação: a derrota na final contra a Espanha, o time dos sonhos, por 1 a 0, não diminiuiu em nada a bela campanha da Seleção Alemã. Na minha lembrança, porém, o gol de Lahm, nos acréscimos contra a Turquia, é o que ficará daquele time que mostrou muito talento na Suíça.

Em 2010, Michael Ballack terá sua última chance de título. A Alemanha é sempre favorita, mas enfrentará uma chave bastante complicada e imagino que tenham muita dificuldade de ir para além das quartas e semi-finais. Mas Alemanha, depois do Brasil, é o time mais forte em Copas do Mundo, e eles podem, sim, surpreender. Não duvidem de geração de Ballack. Ballack chega com 33 anos para esta Copa do Mundo. Está mais velho, mais cansado, mas, ao mesmo tempo, está mais experiente. Se não tem o vigor físico de outrora, tem uma grande bagagem sobre suas costas e isso pode ser crucial para que ele lidere o seu time.

Por tudo que fizeram dentro de campo, alcançando ótimos resultados, independente do título em 2010, o nome de Ballack e de sua geração estará gravado para sempre nos anais da estória do futebol, ao lado da geração dos grandes do futebol alemão: Fritz Walter, Beckenbauer, Rummenigge, Lothar Matheus, Klismann e Michael Ballack...

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